Poetas Mortos

Fechei a cortina

De minha janela,

Silenciei os ruídos

Estridentes do caos,

Exceto a do vizinho,

Um aposentado

Que encontrou sentido

Em sua miserável existência

Fazendo reparos rotineiros

Em seu apartamento assombrado,

Fora isto,

Criei meu mundo

Feito de poetas mortos,

Neruda ao lado de Clarice

Pessoa entre Drummond e Cecília

Todos pendurados

Na parede do quarto,

E tantos outros

Despencando da estante da sala;

Vez ou outra

Algum vento datenesco

Penetra por pequenas frestas

Em minha porta,

Mas eu os ignoro...

Meus ouvidos e olhos

Estão molhados de versos,

E no teto translúcido de meu apartamento

Enxergo galáxias

De infinitas possibilidades,

E aqui,

Neste planeta reduzido

A tão pouco,

Consigo fazer sentido,

Eu e os meus poetas mortos.

Fabio Kilcher
Enviado por Fabio Kilcher em 26/06/2017
Reeditado em 26/06/2017
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