“Finando/Prelúdio”

“...Quando eu morrer será num dia assim de brisa mansa.

Um simples dia!

Numa madrugada onde os poetas não declamarão uma só palavra, mas amarão em um só gole todos os seus amores.

Dia em que o ar estará carregado de amor e poesia.

Quando eu morrer será assim, um dia onde os amores serão bem amados.

Um dia que cada ponto de Luz visto na terra da estação espacial, será uma fogueira de paixão a arder em volúpia.

Quando eu partir será assim, um copo de Porto a meia taça sobre a mesa, um cabaré a meia luz cheio de amor pra dar e vender.

Quem sabe até me vá numa manhã boemia de segunda feira, embalado sob o som do finado Bob Bahaino no largo da Piedade a animar senhores da 4a idade, num Vete de Mi (Virgílio Exposito) na Caetana Voz de Veloso.

Ah!!! Será num dia em que a dor no peito que me visita todos os dias a me sondar como quem quer saber se viver é ainda o meu propósito, não virá.

Será num dia ímpar e não par, quem sabe num dia sete ou vinte e cinco de um outono qualquer.

Não pode ser no verão!

Não!!!!!

Muito calor, poucos irão se despedir.

Quando eu morri foi num dia assim, em que deixei a poesia e a música para viver as dores.

Morri no dia que esqueci de fato quem fui.

Morri apaixonado, amando, amado, num por do sol no BA ou na Ponta de Humaitá.

Só sei que morri!

Nem lembro o dia, só a sensação de ser invadido pelo mar, pelo mar da Bahia...”

(“Finando/Prelúdio”, by Carlos Ventura)