Atlante

A lua clara descia suave sobre o mar,

Trazendo o brilho incandescente da prata acinzentada

Ao mármore dos templos.

Longe, o horizonte unia-se às águas, selando a cúpula.

À distância os picos dos montes se levantavam imponentes,

Numa beleza hostil, ímpar,

Tendo por cenário um paraíso místico e inigualável.

Infinidade de seres mergulhava naquele instante num mar lacrimejante,

Dominados pela fúria cega das vagas e dos tufões.

As estrelas, ainda, faiscavam no céu,

Quando desceste ao largo do templo.

Somente a luz do luar e a brisa quente do mar em chamas

Os teus pensamentos testemunhavam,

Naquela noite onde o silêncio e a magia

Não mais transcendiam o furor das ondas.

Haverias de contemplar o declinar do teu próprio império,

Ou entregá-lo impotente nas mãos

De Possêidon - senhor dos mares.

Entretanto, já a natureza, naquele instante, se ressentia.

Meus olhos contemplavam na luz tênue do luar teu digno perfil,

Iluminado por incandescente chama de amor ardente.

Senti teu olhar firme, profundo e magnetizante,

Trazendo à vida os nossos sonhos de amor,

Enquanto, ao longe, o oceano revolto espumejava na praia,

Removendo areias como séculos,

Inundando impiedosamente o continente,

O mesmo que já se abria em fendas e se perdia,

Levando consigo a vida e a tecnologia.

E em silêncio profundo contemplavas o mundo que ruía.

Grandes eram os templos e os monumentos

Aos quais as águas trepidantes submergiam,

Deixando apenas as ondas espumantes,

Onde antes reinara o luxo, a beleza

E a transparência das construções majestosas.

Água, areia e pânico,

Ondas titânicas e roncos ensurdecedores...

O oceano parecia louco e alucinante,

Como teus olhos imersos no desespero

E na violência das águas que já a tudo cobria.

Apenas o teu olhar e o meu, em magnífica fusão,

No alto do grande Templo Branco resplandecente,

O destino inglório da nação contemplaram.

Sem nada podermos fazer e vendo descer ao oceano profundo

Os últimos vestígios de uma civilização,

Silenciosamente, do alto, o horizonte distante fitávamos confiantes,

Iluminados pela certeza do retorno

E da vida que se eterniza, muito além,

Vencendo o tempo e o espaço,

Que para o amor não tem fim.

Arádia Raymon
Enviado por Arádia Raymon em 17/01/2008
Reeditado em 28/01/2008
Código do texto: T821464
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