Eflúvios de Uma Noite Maia
Era você...
Vinhas de longe cheio de saudades
E encontraras-me triste e silenciosa,
Esperando por ti.
Vieras calmo e sereno
E me encontraras vivendo o doce enlevo
Do sonho de rever-te
E estar contigo, sem jamais perder-te.
Chegaras, finalmente, chegaras
E iluminaste a minha vida.
Trouxeste luz ao meu viver
E paz à minha alma apaixonada.
Vieras de longe, sem saber por que
E me encontraras...
Tiveste uma surpresa, naquele dia,
Quando mirei-te nos olhos
E compreendi que te amava.
E achaste absurdo o meu súbito amor,
Mas, também, o sentira...
E tiveste medo e, como eu, fugiste.
Tinhas, então, um caminho, uma estrada
E a preferiste ao desconhecido sentimento
Que te enlevava nas noites calmas
De luar suave e brando.
Ah! Lembras-te bem, daquela noite linda,
Cheia de estrelas, da Deusa Lunar...
A Deusa que conhecia os segredos
Que nossos corações teimavam em ocultar,
Mas que nossos olhos,
Fundindo-se uns nos outros,
Insistiam em anunciar.
Eras belo,
Tinhas a beleza do mistério que te ocultava.
Teus olhos, ocultos pela cumplicidade da penumbra,
Possuíam a escuridão brilhante da obsidiana
Que, um dia, conhecemos tão bem.
E os meus olhos, mergulhados nos seus,
Tinham o brilho do jade
Exposto à luz celeste das noites Maias.
Éramos, outra vez, nós dois.
Eu e você, novamente juntos,
Vivendo o aroma do passado,
Sob as forças do presente.
Amavas-me e eu o sentia
No roçar dos teus olhos nos meus,
Como se a noite e a aurora
Se fundissem, de repente,
Numa combinação de cores e luzes de matizes diversos,
Onde predominavam o esplendor da negritude
E o verde da chalchivitl.
Guardavas no peito a ânsia da liberdade
E tinhas impresso no rosto a marca da saudade.
Mas fugiras e não compreenderas
A razão da força misteriosa que nos unia.
Tiveste medo...
E não renunciaste ao teu caminho...
E me perdera...
Porém, eu seguira teus passos.
Como brisa acordando as flores no amanhecer,
Busquei-te como um nômade,
Para despertar-te do sono hipnótico
Que te adormecia a mente.
Chegara, então, o dia e recordara,
Sentiras-me, outra vez, presente
E te refugiaste, outra vez,
Na inquietude do seu próprio medo de sentir.
Mas como todas as conchas fechadas,
Protegendo a pérola querida,
Na luta pela defesa,
Sofreste a dor da ferida,
Que a pérola amada, pressionada, causara.
E foste obrigado a expeli-la!