Linda Negra, linda

Prometi escrever um poema para você, mas como, se até o seu nome eu não sei? Levei noites e mais noites buscando inspiração e palavras. Tudo inútil, pois levaria anos para rabiscar umas três linhas de meu caderno. Fui a bares, a festas, mas não encontrei.

A beleza de sua alma não é feita de artifícios que o homem inventa para fugir da realidade, artifícios estes que iludem, nos tiram do natural, uma ilusão temporária que ao acabar nos deixa no mesmo mundo de solidão.

Sua beleza está no natural, na natureza, na cor da sua pele, em seu cheiro e em seu sorriso.

O que poderia falar de você? Não poderia dizer nada, a não ser que você é uma Linda Negra, linda sem descrição.

Você é um mundo misterioso o qual não penetrei – talvez não possa – não sei dos seus segredos, não sei das suas vontades ou fantasias. Quem sabe um dia não possa atravessar os portões que separam nossos mundos? Talvez assim, poderia tentar escrever um verdadeiro poema, e nele dizer o quanto tua pele é macia, como é o seu humor ao acordar e assim, acrescentar substantivos e verbos ao adjetivo Linda.

Não sou um nobre rei nem tenho posses, tenho uma caneta que uso para transformar as letras em curvas, fingindo ser as curvas de teu corpo, imagino tocar em seu cabelo emaranhando-me em meio aos seus fios, digo que sinto os teus lábios, beijo-os, carnudos lábios. Fecho os olhos e crio um perfume que digo ser o seu, crio uma voz delicada que fala baixinho ao meu ouvido e finjo ser a tua, uma tortura que acaba quando volto ao real e suspiro forte, um suspiro de vontades e desejos.

Agora continuarei a buscar palavras para acrescentar a estas, sei que nunca as encontrarei, sei que não há palavras para descrever você, Linda Negra, linda.