A CASA DO PORTÃO AZUL

É na casa do portão azul,

na primeira esquina da rua.

A casa não lhe pertence,

também a vida já não é sua.

As cicatrizes visíveis na testa

são reflexos dos infernos vividos,

As não visíveis, na alma,

são alanhadas crônicas.

Sua inocência é a melhor parte,

quase nunca sai,

embaraçado em desgostos,

não tem entusiasmo na vida.

Não mais consegue disfarçar o ardil,

a carceragem na qual foi escravizado,

triste destino de um homem tão digno!

Na casa do portão azul vive um homem,

casa, não... Mausoléu...

Se lá não encontrá-lo, olhe à direita da rua,

verás um espectro passo a passo,

aparentando bonança e quietude...

Olhos fixos no próprio umbigo.

É ele meu grande amigo,

que de tanto chorar por dentro

perdeu o rumo... Tornou-se bruno.