Discretíssima
No meu discreto e inócuo ambiente lembro-me de nossas carícias. Poderia classificá-las como ingênuas e ao mesmo tempo ariscas.
Perguntaram-me uma vez, se eu podia descrever o profundo sentimento que sentia por ela; não sei – disse eu – minhas palavras não poderiam jamais descrever o indescritível, ou tão pouco definir o indefinível.
Tudo não seria nada mais que meras palavras que em poucos instantes se dissolveriam no ar. Prefiro admirar a continuação de minha metamorfose.
Palavras servem para conquistar, ferir, construir assuntos ou até mesmo fazer o que estou fazendo, manchando este indefeso e inofensivo papel em branco, mas para descrever um sentimento, elas deixam a desejar.
No meu belveder do amor olho-a desejoso como nunca desejei, estendendo a mão na tentativa de impedi-la de partir, mas ela partiu, a bordo de uma soturna despedida que por mim foi causada. Pela maledicência dos que por mim torciam contra e pela imutável fraqueza do homem.
Foi um fadário que sobre mim caiu, arrastava-me tentando com extrema força feroz me segurar, mas fui. Hipnotizado pelo pleno prazer carnal fui, mas fui imaginando os reflexos que tudo aquilo causaria, (talvez não causasse). Se não fosse pelo belo desenrolar de uma missão que tinha como principal objetivo a nossa destruição.
Sinto-me vítima e ao mesmo tempo comparsa de tudo aquilo, que embora estivesse claro, eu não conseguia enxergar ou talvez não quisesse.
Sei que nossa união foi deferida por Deus, e que talvez hoje, quem sabe amanhã, estejamos criando mais algumas linhas de nossa historia.