Choro na madrugada
Eu queria poder dominar o meu corpo, sonhar com a liberdade, uma felicidade, ter direito a escolha pelo menos um pouco. Ser opinante, não tanto obstante e muito conseqüente.
Mostrar a independência, provar que tenho consciência e nada do que fiz faz algum mal.
Queria poder sonhar e desejar ser feliz, desenhar os meus sonhos e não acordar chorando.
Se toda a minha solidão dependesse só de um encontro, se eu soubesse que não era mais um tombo, encararia o desconhecido.
Se ela soubesse o quanto a amo e quanto eu sonho em tê-la de novo. Se ela soubesse que minhas lágrimas causaram tantas lástimas e forçaram-me a construir um soneto triste.
Notas musicais são inventadas, notas descartadas por quem já se diz feliz, foram feitas em uma prancheta que sobre a mesa virou refeição.
Mas hoje vivo angustiado, sem ninguém ao lado e sem os meus pedidos atendidos. Encaro o céu, decoro o mar, reformo a lua e conserto as estrelas para não ver o tempo passar.
Queria ser feliz de novo, provar que meu corpo é puro e não mais errarei. Transformar meu sorriso insosso numa referência jamais vista.
Ah como meus neurônios são tolos!
Dizem que sou racional, mas nenhum outro animal faria o que eu fiz. Esconder-se atrás das desculpas, magoar quem não tem culpa e no travesseiro lamentar. Isso não faria.
Se ela soubesse o quanto eu sofro, o quanto eu sonho em ser feliz, só quero que o meu corpo já quase morto fosse o meu servil.