Criança de pé no chão


Antigamente brincávamos de roda
Cantando as cirandinhas da moda.
Pulávamos corda entusiasticamente
Aos gritos de fria, morna e quente.


Jogávamos bola no meio da rua
O apito final quem dava era a lua.
Pegávamos pássaros na arapuca
No quintal do meu avô Juca.

Nosso picolé tinha o final salgado
Nem por isso pouco cobiçado.
Guaraná caçula furado na tampinha
Implorava um pouco, quem não tinha.


Talo de mamona ou mamão
Água na latinha com sabão.
Muitas bolas multicoloridas
Voavam pelos céus perdidas.

Andávamos de perna de pau
Com ares de gigante mau.
Empinávamos coloridos papagaios
Que cruzavam os céus como raios.


Todos com as mãos cheias de bolinhas
Logo ao chão formavam-se rodinhas.
Carrinho de rolimã em disparada
Éramos os donos da calçada.

Nadávamos escondido no poção
Tirando pedras do fundo com a mão.
Subíamos em todas as árvores dos quintais
Roubando as frutas sem deixar digitais.


Contávamos histórias de arrepiar
Para os pequeninos assombrar.
Careta com vela acesa, feita de mamão
Assustando a todos como assombração.

Estilingue pendurado no pescoço
Guerra de mamona escondido no fosso.
De olho no buraco do banheiro
Para ver a vizinha sob o chuveiro.


Brincávamos de nego fugido
À noite nos quintais escondido.
Corríamos da cabra cega
Driblando no pique de pega-pega.

Uma enorme mangueira secular
Era a nossa nave interestelar.
Viajávamos por todo o universo
Sempre triunfantes no regresso.


Construíamos nossos carrinhos
Lata de óleo e rodas de limõezinhos.
Com espingarda de cana de milho
Éramos os mocinhos, heróis do gatilho.

Colecionávamos álbuns de figurinhas
Selos, calendários e revistinhas.
Tudo servia de brincadeira
Para a meninada da rua inteira.


Kennedy Pimenta