Jogando com as Palavras

Seria muito estranho se a vida

que nos passa de forma tão corrida

sem parar, sem se deter, de sol a sol,

fosse também na regra dividida

exatamente em iguais dois tempos

como ocorre, por exemplo,

num jogo oficial de futebol.

No primeiro tempo, 30 anos,

jogo na base de táticas e planos

e jogadores cheios de disposição.

Por isso, não seria de estranhar

que vá se construir um bom placar

contra todo e qualquer adversário,

que embora arme o melhor esquema,

vai acabar enfrentando um problema

de preparo, aquém do necessário

para conseguir resistir a esse vigor,

que transborda de cada jogador.

É chegada a hora do intervalo

arbitrado em dez anos

para dar tempo à revisão dos planos

e recuperação do atleta

que já sente um pouco o peso da idade

quando arranca com velocidade

em direção à meta.

Vai começar o período derradeiro.

Preparam-se as equipes, o juiz, torcida,

para um tempo que é o verdadeiro

regulador de todas as partidas,

pois é nessa etapa que as vidas

partem para a definição

de quem vai sair cedo de campo,

rendendo-se a antiga contusão,

quem vai ser medicado no gramado,

quem vai pedir a substituição,

com cansaço em estado terminal,

e quem vai se aguentar até o final

porque ao certo ninguém pode prever,

em virtude de tanta interrupção,

quanto sua excelência, o juiz,vai conceder

de tempo a mais como compensação.

Amaury Nicolini
Enviado por Amaury Nicolini em 02/11/2011
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