Fragmentos - III

Chove. Dezenas de gotinhas d’água escorrem no vidro da janela. Elas não sabem que estão caindo. Não se apercebem gotinhas e nem do fato de que umas sucederão as outras, interminavelmente, enquanto durar a chuva. A minha consciência das coisas não é melhor nem pior que a dos outros seres, apenas diferente.

Agora a chuva estancou. Alguns minutos depois vejo um telhado. Instantes antes de reiniciar-se a chuva, vi uma ave se escondendo entre as telhas. Parece haver um ninho ali. Vejo que a ave às vezes parte, desaparece por algum tempo. Depois retorna, trazendo algo no bico, uma folhinha. Percebo que ela fez sua casa entre as telhas e que algumas avesinhas recém-nascidas recebem, num barulhar característico, o alimento que a ave-mãe lhes traz da sua busca.

Isto aconteceu alguns minutos atrás. Agora, continuo a perceber a janela fechada e o barulho da chuva batendo levemente nas vidraças. No fundo de tudo isto, ouço a voz de algumas crianças brincando entre si e me percebo percebendo tudo isto. Penso noutras coisas.

Meus sentidos percebem muitas coisas que se passam à minha volta e imagina um outro tanto. O mundo se perde e se ganha em mil cores, dez mil sons, cem mil movimentos, um milhão de amores.

(Prezados amigos e amigas, leitores e leitoras: se desejarem, registrem no link abaixo os seus comentários, críticas ou quaisquer perguntas relacionadas ao presente texto. Todas serão lidas e atenciosamente respondidas pelo autor aqui mesmo no site)