Relendo Saramago...

Relendo Saramago.

Bem que eu queria de volta o espaço da praça,

onde a vida acontecia à volta da catedral.

Seus jardins, toda gente circulando, tão normal,

ocupando espaço público, em bancos de contemplar,

intercâmbio da alegria, com pessoas se encontrando

no prazer de viver, conviver, relaxar...

No lugar da catedral, onde tudo acontecia,

algo estranho aconteceu,

novo perfil se estendeu.

Desse espaço tão humano,

nova mente compulsão formatada no consumo,

se estendeu.Virou centro comercial.

Todo mundo aprisionou.

Tomou conta do espaço, o consumo tentação,

Foi entrando pelos olhos, nos ouvidos e nariz,

tomou conta dos sentidos, toda a mente do indivíduo,

temeroso de exclusão, de expulsão do paraíso

de comprar, consumir, de ter mais por mais não ser.

Tendo em vista a nova crise, o consumo perde espaço,

novo risco a arriscar interroga o mercado que desaba em aflição.

Há no ar acontecendo novos jeitos, que não quero especular.

Quero a crise que questione, desinstale, que coloque no lugar,

o que é justo a cada ser.Cada qual com seu espaço, alternativo de viver...

Nova praça, nova escola, novo tempo em saber me quero ver.

Quero sonhos, quero amar com todo o mundo, ser feliz, filosofo em meu querer...

Gaiô.

Outra leitura para a crise

Abril 7, 2009 by José Saramago

A mentalidade antiga formou-se numa grande superfície que se chamava catedral; agora forma-se noutra grande superfície que se chama centro comercial. O centro comercial não é apenas a nova igreja, a nova catedral, é também a nova universidade. O centro comercial ocupa um espaço importante na formação da mentalidade humana. Acabou-se a praça, o jardim ou a rua como espaço público e de intercâmbio. O centro comercial é o único espaço seguro e o que cria a nova mentalidade. Uma nova mentalidade temerosa de ser excluída, temerosa da expulsão do paraíso do consumo e por extensão da catedral das compras.

E agora, que temos? A crise.

Será que vamos voltar à praça ou à universidade? À filosofia?