Luz na madrugada
Longe, as ondas espargiam-se na praia, cheias de brancas espumas, emprestando à areia uma tonalidade de bruma e de neve.
Enquanto ao longe, em silêncio eu contemplava o oceano revolto, sem sentimentos, sem dissabores...
Apenas mirando as ondas, o vento brando e o azul calmo do mar distante.
Num relance, passou-me na mente a tua imagem.
E em pensamento revi teus olhos, teus lábios e teus cabelos.
Teu riso era calmo, quase feliz e tuas mãos seguras e firmes, tinham a suavidade do anoitecer, quando passeávamos felizes, esquecidos do mundo à nossa volta, naquele princípio de noite estrelada e bela.
Mas uma nuvem soprada por vento forte, tirou-lhe o riso, obscureceu teu olhar negro e brilhante, e roubou-lhe a serenidade da fronte altiva e bela.
E eu, esbatida qual onda incerta, jogada contra os rochedos no mar, ao teu lado, fiquei, sem um gesto ou palavra, sentindo no peito o choque tremendo que me sufocou.
Teus olhos buscaram-me cheios de certeza e, asfixiada, não pude estender-te a mão, porque o vento rugia forte e ameaçador, encorajado pela nuvem, agora calma.
Foi um instante de desalento intenso e cruel, como se as estrelas de repente caíssem todas do céu.
Num instante, a alegria fugira, o riso morrera e o coração parecia ter sido arrancado do peito violentamente, deixando o peito vazio, sem dor, apenas em estado de choque paralisante.
Havia uma estrela no céu, ainda me lembro, e foi a ela que eu recorri, suplicando por socorro, sabendo que naquele instante eu de novo te perdia... Para sempre...