Exorcismo de si.

Exorcismo de si...

E escrevendo, percebera o poder de exorcizar, trazer à tona, sombras esfumaçadas de de nítida presença, como a escrita que se transmuta na lente que decifra os contornos do indefinível dos laços, abraços, nos afetos que a cercava.

Coisa dos desafetos que a todos entretecem...indelicado mal estar...

E rabiscava, rabiscava entre tantos, o fantasma feminino que irradiava grotesca aparência, que imbutido trazia.

Trafegava estradas de um passado de tirânico poder que a qualquer pessoa subjuga nas relações interpessoais...

Simpática, sorridente, cativante a priori, trazia em seu bojo, Hera, a deusa que a tudo abarcava e se via. Achava desnecessário saber quem em si trazia. Se escondia. E se sabendo confusa de sentimentos, os olhos piscavam em tique nervoso que a denunciava...

Só queria se exibir, bem receber e se distinguir nas tarefas de tudo acolher, sob as asas maternas da vida familiar. Tudo resolvia, incansável, mas fingia se submeter à organização masculina em falsa dissimulação. De prendas domésticas, era a glória exibir o pão caseiro, o biscoito que a boa mesa gera. E das letras, se achava mestra, em poder e erudição.

Por sorte, apesar dos encantos, longe estava de ser pura. Era bela, mas não pura. E se escondia atrás de muros, imperceptíveis, que a ninguém revelava. Se projetava em ciumeira desnecessária...tudo queria ser...

E esse fantasma, essa sombra perseguia há longo tempo, numa imagem de poder que tudo explica, tudo fecha em verdade em ar professoral!

E a salvação só foi possível, ao perceber, redigindo e clareando a vontade de estinguir aquela sombra perseguindo seu viver. Tudo, tudo renegado, fingindo acolhimento e aceitação...

Sem temer, falou mais alto um instinto nada louvável, mas que a salvou. Agarrou-a, estrangulou-a até tirá-la do caminho.Precisou de alguns assassinatos em mortes de si mesma...desejos desnecessários, vaidades imiscuídas em orgulho, expectativas...tudo tão inútil...

Era ela ou ela....Melhor assim....Passou a admirar-se por isso...

Possível convivência? Em síntese de maturação? Era ela...ou ela....

Quem sabe um dia...A sombra que nela reconhece, se transmute...se ilumine...

Por enquanto precisava se salvar...de si....dela....dos outros...

Salvar...ou morrer...

Fantasmas se esvaem...no reconhecimento de si...na luz...

Quem sabe um dia...livre...

Gaiô.