O FrÁgil Requinte dO SilênciO
Qualquer um pode ter um segredo. Fazer-se estar em silêncio. Coibir-se algemando as disformidades da própria verdade com a impudência da mentira alheia. Escoar-se de toda e qualquer inquirição e lançar-se na inquisição de uma liberdade apática e vigiada. Tornar a franqueza uma quimera. A confidência um veto. A confissão uma heresia. Destruir as evidências e não usar aspirinas, porque não existe um antídoto contra a penitência do calar-se inevitável.
O sigilo absoluto é o fardo que carrega o mártir.
Para que a palavra não o confunda.
O olhar nunca o denuncie.
A consciência jamais o traia.
A culpa de modo algum o persiga.
O medo em tempo algum o condene.
Espião de si mesmo, este escravo da omissão será sempre um nômade.
Lacônico, porém de muitos subterfúgios.
Constantemente preocupado em olhar para os lados e falar baixinho.
Indiferente ao humor e alérgico a telefone, cartão de crédito e animal de estimação.
Que prefere enlatados porque vive a suspeitar dos entregadores de pizza.
Que contracena com o seu próprio reflexo no espelho atrás do divã.
E faz amor com mulheres de cabaré.
Armado com cortina, abajur, controle-remoto e uísque, tudo parece perfeito.
Mas as paredes têm ouvidos.