A tênUe peLícuLA dA NoitE
À noite, quando não há mais o grande esplendor da luz extinta pelo ocaso, o frio cai impiedoso, e uma vacância alastra-se em todas as esquinas sebentas e abandonadas pelos rastros de todos os estranhos que por ali passaram e se foram. Sem remanescentes idílicos, a divindade negra sobrevive da onipresença da ausência e do silêncio insone das taperas e felídeos que vagueiam impávidos pelas coberturas dos edifícios. Na dolência do ermo noctívago, todos os homens são anônimos atônitos. E afônicos.
À noite, quando o céu está coberto de betume, todos os arbustos são suspeitos. Bueiros são olhos à espreita. Papéis esvoaçantes são óvnis. Vozes são do além.
As corujas são avarentas.
E as mansões, mal-assombradas.
Na noite, o medo é viúvo da coragem e todo humor é negro.
Mas qualquer filme de terror vira clichê.