O canto de Orfeu

Um passarinho subiu na janela, eu olhei. Fiquei com os olhos grudados nele e chorei. Um raio brilhou no vazio do tempo e tocou o topete dele e o coloriu. Eu sonhei. Dei meus olhos para ele e ele para mim sorriu, eu cantei! Ao lado dele havia uma flor, perfumada. Sua cor era suave e encantada. Ela perfumou o ambiente e ele partiu.

Levantei célere como o vento e parti em busca dos meus sonhos. Sinto leve como a brisa e vejo da vida apenas o passarinho. Sonho o sonho da vida que me sonha em sonhos e me dá guarida. Sonho o sonho do mundo e soluço de tristeza, mas deixo na sua Alteza a obrigação de nos salvar. Ah esta gloria inglória que a todos faz chorar.

Abro os meus braços para a vida e parto em busca do infinito. Nele eu me perco por inteiro, sou mais que ligeiro e parto aos saltos, em busca do sonho farto, em busca do meu bem querer. E assim eu faço como o passarinho, quando chega o perfume da rosa, eu dou para a vida as costas e parto sem nada dizer.

Vivo a vida aos pouquinhos, pois eu que vim do lodo da terra, subo para a mais alta estadia, me deixo abater pela morte, para me tornar eterno naquilo que eu mesmo sou. E quando sinto o perfume da brisa me deixo molhar pela garoa. Sou completo, estou a toa e esta canção que a vida entoa é o sonho que me faz cantar.