PINGOS DE CHUVA

A chuva cai torrencialmente e embaça o vidro da janela.

Frio, muito frio por aqui…

Nada parece aquecer minh’alma cativa.

... Os grilhões do tempo aprisionaram sonhos

e o que vejo são pingos transparentes

que se unem a outros tantos e formam um charco.

Não quero molhar meus pés!

Cadê o céu?

As estrelas se abrigam além da atmosfera

e piscam sorridentes para os astros

que circulam no universo.

Numa linha circular a terra e o mar parecem se unir ao céu.

É o limite de minha visão que enxerga o horizonte,

mas não consegue ver mais adiante.

Será que por detrás há algo mais bonito?

Ouço vozes altas e uma correria de pessoas apressadas

fugindo da água que cai das nuvens.

As nuvens choram e se unem umas as outras

cobrindo a beleza que está sobre elas.

O que fazer diante de tanta fluidez embaraçante?

Sim, meus olhos também estão molhados

pelas lágrimas que ofuscam minha visão.

Talvez não queiram que os meus olhos vejam,

com muita nitidez, aquilo que me faz triste.

Mas elas esqueceram que o que me faz triste

meus olhos não vêem.

Sinto-me triste com aquilo que ninguém vê:

O descaso, a hipocrisia, a maledicência, a inveja,

o dissabor ou, até quem sabe, fico triste com

a alegria que muitos sentem ao ver-me triste.

Devo reagir aos sentimentos contrários ao amor.

Nada que é contrário ao amor pode ser absorvido. Nada!

As frustrações alheias não me dizem respeito.

O medo e a ideia de superioridade de muitos, me afastam.

Sinto-os falsos, mentirosos

E longe do apelo puro que existe em meu coração.

Meu coração ainda fica volúvel com a beleza.

Ele ama e desabrocha como uma flor do campo,

cujas pétalas balançam sorridentes aos primeiros raios de sol.

Saí da janela, fechei as cortinas

e sentei num canto da sala para refletir.

Pensei no que fazer.

Não sabia responder aos meus questionamentos.

De repente, ali sentada, adormeci.

Sonhei com um lugar iluminado, cheio de perfume,

de flores, de pássaros sobrevoando

e buscando alimentos para seus filhotes

aconchegados em seus ninhos.

A relva e as folhas das árvores

estavam levemente molhadas pelo orvalho.

Ouvia o coaxar sereno dos sapinhos num lago

e crianças brincavam e rolavam no jardim.

Eram sorrisos, brincadeira de roda, pique-se-esconde,

bolas de sabão coloridas e saltitantes que cobriam o ar,

piscavam e sumiam...

O vento espalhava suavemente pétalas de rosas

que perfumavam o ar.

Vi muita vida e uma porção de raios do astro rei,

sob a forma de luz e calor.

Era o Sol radiante e belo aquecendo a vida.

Quando me senti segura,

Sentei-me no banco do jardim e apreciei

com satisfação

a brincadeira engalanada das crianças.

Gostei do que estava a ver.

De repente, assustada por um trovão,

acordei e senti-me só.

Lamentei ter acordado daquele sonho

tão lindo e distante.

Resolvi, então, descansar e tentar dormir,

para que o tempo passasse sem que eu sentisse

a dor da tristeza que atravessava meu peito.

No caminho para chegar até o meu quarto,

vi uma porta entreaberta.

Bem devagar entrei sem ser percebida.

Vi um rapazinho dormindo bem tranquilo.

Tinha um semblante feliz e parecia estar sorrindo.

Pensei: Ah! Ele deve estar a sonhar com coisas boas,

alegria, felicidade…

Vou sair rápido daqui para que ele não acorde

e continue a sentir aquela sensação de beleza

que envolve o seu ser iluminado.

Ao chegar em meu quarto,

em minha cama,

peguei em meu livro de cabeceira e estava escrito:

“Minha força está na solidão.

Não tenho medo nem de chuvas tempestivas

nem de grandes ventanias soltas,

pois eu também sou o escuro da noite” – Clarice Lispector.

Me senti feliz outra vez, pois aquele rapazinho que estava a sorrir no quarto ao lado era o meu filho.

Se ele estava feliz a sorrir, é porque a vida para ele era plena.

É… não posso perturbá-lo com minhas tormentas e com minhas ventanias soltas .

MEG KLOPPER
Enviado por MEG KLOPPER em 25/01/2013
Reeditado em 25/01/2013
Código do texto: T4103790
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