FÁBULA MENINO DA ROÇA 5º CAPÍTULO

FÁBULA MENINO DA ROÇA 5º CAPÍTULO

Apesar de minha tenra idade não me permitir um nível de raciocínio capaz superar a nova realidade, frequentando a escola e convivendo com pessoas mais instruídas, naquele ambiente saudável, eu continuava apegado ás recordações da minha infância. Recordações essas que permaneciam vivas na tela do meu pensamento. São esses, os caprichos que atualmente me conduzem de volta ao meu longínquo passado. Retroagindo no tempo; eu me sinto novamente como aquele menino do ontem. Hoje prestes a completar minha oitava década de existência, com as gavetas da mente empanturradas de lembranças.

Os pequenos fleches de fatos que ocorreram nos meus primeiros anos de vida, vez e outra vem, á tona como borbulhas de ar oxigenando um aquário de peixinhos ornamentais. Por exemplo o meu primeiro passeio em um veiculo motorizado, uma experiência realizada numa noite muito escura. Estávamos na casa de minha avó materna, eu não recordo de ter conhecido nenhum veiculo, antes desse fato, na ocasião foi a primeira vez que eu tivera um, diante de meus olhos; papai mamãe e eu entramos num fordinho vinte nove de meu tio Rorick, seu proprietário e condutor que para agradar aos meus pais, nos brindou com a gentileza de uma pequena viajem. Coisa cobiçada por toda aquela gente sertaneja que além do uso dos pés e do cavalo somente viajava em de carro de boi. Assim que entramos no automóvel eu logo imaginei como vai ser andar nessa escuridão ? Mas quando acenderam os faróis, fiquei maravilhado com a mágica daquela luminosidade e o pouco tempo gasto na viajem ate a casa do meu avô paterno. São de fato os pequenos detalhes gravados na minha memória que matem vivas essas lembranças. Certo dia, eu deveria ter quatro ou cinco anos de idade. Na parte da manhã, enquanto eu brincava no terreiro de nossa casa, com os meus boizinhos de sabugos e uma moça ajudante de minha mãe, catava numa peneira o feijão a ser cozido para o consumo diário, começou a escurecer. As vacas começaram a mugir no pasto as galinhas subiam para seus poleiros, os trabalhadores que carpiam a roça de milho se agruparam no curral à frente de casa, foi um corre e corre alarmante com a escuridão. O sol desaparecendo e o céu ficou completamente estrelado. A desinformação era tão grande que a maioria da população nem se tocou que se tratava de um eclipse total do sol. Para muitos o mundo estava acabando. Não havia se quer um rádio, as informações eram veiculas de boca em boca, se comunicavam apenas por cartas e a maioria nem sabia ler. O analfabetismo imperou por longos anos. Mas os conceitos de honestidade e a pureza de alma do sertanejo mantinha o meio ambiente seguro e o respeito era soberano.

E foi nessa etapa mais saudável da vida, no campo do advento de minha juventude, da infância à adolescência, que formei minha personalidade. Com a mente limpa e despoluída, isenta de qualquer maldade. Uma verdadeira magia de sonhos e fantasias. Espelhado pelo exemplo e seguindo os ensinamentos de meus pais. Meus primeiros anos de existência foram a mais bela fase da minha vida, por mais que eu me esforce não consigo definir e explicar em palavras aquela sublime magia que me envolvia alma . Sentindo o perfume das flores do campo espalhados pela brisa no ar que eu respirava. Tudo passou como um Sonho. Parece-me, mais um conto de fadas, do que propriamente aquela realidade vivenciada numa época de pureza de alma e coração. Tudo era mágico e a vida seguia um curso saudável de paz e harmonia. Não havia si quer a existência de um radio, para poluir a minha imaginação na formação de minha personalidade. Respirava-se um ar puro e carregado de oxigênio perfumado pelas flores do campo naquele paraíso silvestre com um profundo respeito ambiental. Naquela magia de sonhos estava toda a beleza e a motivação da vida. O que restou de tudo isso e atualmente me foi legado é um verdadeiro filme rebobinando meu mundo criança, de mente sadia e vida saudável sem as mazelas da tecnologia que coloca acriança de hoje a muitos anos luz a frente da sua verdadeira realidade o impedindo sonhar com o mundo das fantasias no paraíso do faz de conta.

No meu mundo infantil, um simples ninho de rolinha, sobre um arbusto empencado de florezinhas amarelas, era algo maravilhoso aos meus olhos de menino da roça. Ao ver eclodir aqueles ovinhos minúsculos, causava–me admiração. Um beija flor construindo seu ninho com sutileza, o João de barro naquele vai vem constante levantando a sua casinha com sua arquitetura inteligente. Tudo isso era magia e diversão no meu mundo criança. O tempo era vagaroso e a vida lenta, a lua escondia seus mistérios e as estrelas compartilhavam os segredos do universo com infinito azul entre as nuvens, em formatos de carneirinhos e tantos outros desenhos. A aurora e o crepúsculo como os principais súditos do astro rei, abriam e fechavam com os seus encantos o dia e a noite, dividindo e compartilhando com harmonia suas tarefas rotineiras, no palco universal, para que ele, o sol, navegasse com toda soberania enchendo de luz a face da terra aquecendo tudo. Dourando as verdejantes matas com seus filetes de ouro penetrantes, sobre os lençóis da neblina bocejada pelos lagos e rios, após as copiosas chuvas que caiam, com suas gotas graúdas e saudáveis. Enquanto nos casebres, as chaminés expeliam sua fumaça branca, ora em riste indo ao encontro de Deus, no índico azul do céu, ora encurvado sobre as verdejantes matas, num belo espetáculo, anunciando mais e um laborioso dia no ritual de trabalho do cotidiano rural. A natureza com sua exuberância cumpriam seu papel livre da arrogância humana sem as agressões sofridas atualmente. Seus pequenos arranhões causados pelas ferramentas rudimentares e artesanais do sertanejo colonizando a terra eram logo recuperados por ela. Que generosamente alimentavam a fauna e a flora silvestre com sua diversidade de frutos e flores. Onde havia uma sinfonia encantadora, orquestrada pelas aves do céu com suas partituras apresentadas em coro com os murmúrios; dos rios rolando pedras e o lamento das cachoeiras no seu despencar saudável e cristalino. Enquanto os animaizinhos silvestres cumprindo um papel fundamental espalhavam as sementes contribuindo de forma significativa com o meio ambiente. Nesse paraíso onde eu fui criado. Em um tempo  que passou tão rápido com um estalar de dedos e que mais parece um sonho ou até mesmo um conto de fadas ! 

 

 

obs: (Foto um  dos meus cantinhos na  roça acervo pessoal do autor)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 03/06/2022
Reeditado em 07/09/2022
Código do texto: T7530141
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