DESTINO

Em dias escuros e sombrios

Ele surge (imagino-o) para clarear.

Persigo-o até minhas forças findarem,

Insisto com ele, pinto-o de rosa e branco,

E sinto-me igualmente rosa e branca.

E rio, brinco e canto alegre.

Sou quando ele vem, cada vez que se mostra

Outra pessoa, feliz e completa.

E triste... Dias mais tarde, quando noto

Que andei atrás dele fazendo-o

Eu própria, dando-lhe rostos,

Características e personalidades, ao meu próprio gosto

Atos e fatos... Eu própria

Atuando nele e sonhando que ele...

Meu destino, ainda não apareceu...

Ou apareceu e foi desta ou daquela forma,

Confundo-me e em cada fato, cada acontecimento,

Eu o vejo em seguida

Frustrada entendo,

Que, destino, ele...

Não é feito por nossas próprias mãos.

Que é único e imprevisível,

Que pode ser podre e não tão fantástico,

Que é capaz de magoar, e não alegrar

Que não está do nosso lado,

Nem mesmo de lado algum

Que age conforme seus propósitos,

Não de acordo com nossas vontades

Podendo matar ou não, fazer renascer.

Tenho pena de mim, piedade mesmo, porque não?

Pois tomei consciência de que ele já chegou à minha vida, desta vez pra valer... E tenta mostrar que devo parar de esperá-lo rosa e branco,

E aceitá-lo negro e cinza.

Um simples borrão sujo, insignificante

Um nada mesmo, este nada que tenho hoje dentro de mim.

Preciso urgentemente parar de esperá-lo.

Nada mais do que este vazio

Este nada sujo e indefeso,

Covarde e insistente, desconfiado e perigoso,

Deprimente nada...

É o meu destino,

Que chegou sem me avisar

Não me deu tempo de me preparar

Para entendê-lo e aceitá-lo. Quando acordei... Que susto!

Lá estava ele dentro do nada,

Rindo ironicamente de mim,

Ali a olhá-lo estarrecida.

Segurou minha boca aberta e espantada

Fechou-a com odiendo carinho,

E disse para mim:

“Pare. Não adianta fugir de mim, para continuar a me procurar. Eu sou isto que você

Está vendo agora. Não tenha medo, sou preto, sujo e inesperado. Sou isto mesmo, pode não estar gostando agora, mas ... sim! Irá se acostumar. Contra mim ninguém pode fazer nada. Sou este poder todo, contra o qual você sempre lutou. Ganhou alguma vez de mim? Veja bem, retorne ao seu passado. Alguma vez você venceu? Não. Portanto, pare agora, e tente se adaptar. Eu sou este escuro que estás vendo. Até o dia em que parar de tentar pintar-me da cor que quer, e deixar que eu aja da minha maneira. Tão Fácil! Compreende?”

Dito isto ele me olhou nos olhos e que horror!

Evaporou-se nadamente, tal como surgiu.

Sinto-me, porém, neste nada dentro do meu ser

E no escuro no qual me encontro,

Posso tocá-lo com minha alma,

Não me sendo possível, entretanto,

Empurrá-lo para longe, com minhas mãos impotentes

Aqui neste interior está o breu,

Meu destino tantas vezes desejado e versado,

Com céu estrelado e luar... Sol e mar,

Em uma parte, no cantinho do meu dentro.

Na verdade mesmo, no fundo inteiro do nada sujo e gosmento.

Estou melada de agonia e tristeza,

Por ter encontrado, desta maneira...

Ele o meu destino.

(17/10/1983)