Louco-Motiva
Não adianta correr contra o tempo, esse perfeito relógio vivo que ora beneficia, ora atrapalha. Na verdade, não há benefício nem perda em sua intenção. O tempo é simplesmente a naturalidade em si, alinhavando ponto a ponto a vida de cada um.
Cada dia é novo, repleto de surpresas, frustrações e alegrias, trazendo consigo toda a sabedoria de que tudo está onde deve estar naquele momento. Há quem viva no futuro, planejando, idealizando um porvir, esquecendo de que antes da colheita vem o plantio, que deve ser realizado no aqui, no agora, no presente. Outros recordam do que se passou, do que se viveu, do que poderia ter sido. Para estes, estagnação e inércia. Para aqueles, sonhos, expectativas e ilusões.
A humanidade deveria se espelhar na natureza e em seus ciclos para entender que tudo tem o seu tempo certo e está certo, pois é aprendizado, crescimento, amadurecimento. A difícil tarefa é a arte de acompanhar, fluir, brincar no tempo e pegar carona em sua descompassada locomotiva cujo combustível é a incessante conjugação do verbo passar.
E assim, a cada cidade, a cada nova estação recolher os malotes que a vida nos oferece e continuar seguindo em direção a um lugar extremo, desconhecido, deparando-se com uma tabuleta torta onde estará escrito “FIM DA LINHA”... que magicamente será o início de outra viagem: a transcendental, ultrapassando finalmente os limites do corpo, do espaço e do tempo.
José Abbade, in BAGAGEM DE MÃO - poesia em verso e prosa,
Editora CEPA, Salvador, 2007