SENHORES,
 
Eu NOVAMENTE volto a comunicar sobre meu projeto de publicar um livro, que já existe e aborda sobre a minha doença e como ela afetou a minha vida. Também faço um resumo, inclusive com testemunhos, sobre o que é Esclerose Múltipla. Neste livro existe mais do que relatos e depoimentos frios e distantes. Tentei colocar para todos o que é acontecer uma fatalidade que certamente muda todos os nossos sonhos e realizações. 
 
Vivo de probabilidades, mais do que possibilidades. Neste ano que começa quero modificar mais uma vez - e mais um pouquinho - a minha história, que podia ser a história de cada um de vocês, hoje ou amanhã.
 
A gente não pode ter vergonha de ser insistente e "promulgar" aquilo que entendemos como verdadeiro e intensamente importante, insistindo em patrocínio para a publicação de encartes de um livro. Eu sei que posso com este trabalho abrir caminhos para mim e para muitos outros semelhantes que eu pretendo ajudar. É só me darem crédito. De pessoas sem-vergonha o mundo está cheio. Eu vim apenas para não ter vergonha de falar.
 
Sei que muitos passam dificuldades semelhantes às minhas, principalmente quem não tem alto poder aquisitivo de ter uma vida assistida e adaptada. Eu não a tenho! Por não ter condições financeiras, eu me deito na sexta-feira e volto a levantar na segunda-feira, a não ser que alguém apareça, por benesse,  para me mudar os dias.

Eu não preciso ficar deitada, e isto só acontece por questão de economia, subsistência. Eu podia ficar até em pé, através de aparelhos, se por isto eu pudesse pagar. Eu podia ter um guincho que me levantasse sem ninguém "quebrar" a coluna fazendo esforço por mim. Eu poderia tomar banhos melhores todos os dias, se eu pudesse ter um banheiro grande e uma assistente todos os dias. Eu podia sentir menos calor...
 
Eu posso jantar fora, ir ao teatro, à praia, ao banco, ao shopping, à reunião da escola de meu filho e eu posso escrever, mesmo com uma só mão, aqui no meu laptop (mais ou menos adaptado às minhas condições de tetraplégica).
 
Minha mãe está doente e precisa de descanso. Eu me vejo muito nervosa quando acontece algo à minha volta e eu não posso fazer nada! Minha cabeça funciona, mas meus músculos não. Às vezes nem a voz sai direito... Eu me vejo muito só.

Muitas situações me revoltam e eu quero gritar, brigar, enfrentar, encarar, peitar, mas não dá... A situação submissa de uma deficiente (mais que cadeirante) faz com que pensem que eu sou muito calma e tolerante. Não querem saber ao fundo que esta é a única condição em que eu posso me situar, não sendo, em absoluto, a minha vontade!

Para ser uma pessoa igual às outras, enquanto Deus me preservar aqui pensando, preciso de infraestrutura e isto é caro, muito caro!
Tenho direito de ser uma cidadã - mas até onde nós, brasileiros, podemos ter direitos?

Eu, pelo menos, luto pelo direito de ter uma casa ADAPTADA ÀS MINHAS DIFICULDADES, num lugar onde eu possa ver o sol todos os dias e quando eu desejar. Eu não quero ter apenas piedade de alguém que me leve ao encontro do sol, de sentir a água e ver a rua todos os dias! Eu quero sair de onde eu moro e ter um lugar que me faça feliz junto à minha mãe e meu filho. Eu quero pessoas boas ao meu lado e em parceria com o que eu sinto!
 
Aqui estão as minhas duas reportagens, que foram ao ar mais de uma vez no mês de dezembro de 2010. Sigo este caminho, pois todos estão ainda muito estreitos para mim e para os meus irmãos em destino.