NAS ENTRELINHAS DO HORIZONTE – HUMBERTO GESSINGER

Nas Entrelinhas do Horizonte, é um livro que trata em forma de crônica – e em alguns itens, a inclusão de um trecho poético -, a visão que Humberto Gessinger tem do mundo que o cerca, de maneira bem simples.

Lançado pela Editora Belas Letras, no ano de 2012, com 160 páginas, possui uma bela diagramação, distribuição de conteúdo (textos, poemas, fotos), totalmente diferente. Com páginas pretas para letras amarelas e páginas amarelas para letras pretas, sempre intercalando, a leitura – que é de fácil compreensão – flui, fica bem mais confortável.

Os capítulos são separados pelos temas, na maioria, pequenos, outro são um pouco mais extensos, como: “O dia em que deixei de ser criança”, em que Humberto descreve vários fragmentos que remetem a essa idéia.

Interessante como o autor separa cada história ou pensamento de um mesmo tema, iniciando-os com um asterisco. O livro tem um layout que nos remete a um blog, mas não ao acaso, pois os textos foram retirados do mesmo - que o autor atualiza até hoje –, outros livros dele foram lançados com esta mesma idea.

Humberto não escreve apenas o acaso, mas sempre coloca frases e situações que provocam nosso questionamento perante o tema. Gosto como ele instiga o leitor a refletir o capítulo antes de iniciar outro.

Cada tema pode ser interpretado literalmente ou simbolicamente, cabe ao leitor questionar e escolher o que se encaixa na sua concepção.

Algumas crônicas que se encontram publicadas por outros autores possuem sentido apenas para quem redigiu. Humberto consegue colocar pensamentos, questionamentos, medos, em fim, ideias pessoais, que abrange qualquer leitor. Alguns textos menos, outros mais, mas sempre atinge o público.

Gosto muito de um trecho em particular, em que o autor fala sobre a perda da nossa criança interior: “Deixamos de ser crianças quando paramos de ouvir como fãs, para ouvir como músicos. Quando paramos de ouvir como músicos, para ouvir como produtores. Quando paramos de ouvir como produtores, para ouvir como empresários. Quando paramos de ouvir... como?”. O autor nos mostra aqui, o quanto é triste perder a magia, o sonho, o entusiasmo e trocá-lo pelo trabalho no quesito de esperar pelo retorno técnico, financeiro. A infância no caso nos remete a sonhar e fazer às coisas apenas pelo prazer e o quão triste é focar no adverso.

Outro capítulo abordado por Gessinger que me intrigou foi: “FOMO, A FOME E O MEDO DO MOFO”. FOMO que têm como significado: “Fear of Missing out”, a sensação de que o melhor esta acontecendo em outro lugar, realmente me pegou de surpresa e passei a fazer tais perguntas constantemente sobre o mesmo.

Músico, Gessinger fala pouco de música, a mesma quantidade que qualquer pessoa que gosta escreveria. Enganam-se quem acha que seu livro aborda profundas teses técnicas sobre o mundo da musica. Alguns leitores pensam antes de adquirir a obra, achando que o mesmo trata apenas de musica para não leigos. Mero engano.

O livro é de um músico que escreve abertamente como uma pessoa comum, ou seja, com abordagens normais de um ser humano, sem títulos. Não é um livro de filosofia avançada, mas o leitor vai filosofar involuntariamente.

Fãs de rock/Engenheiros do Havaii/Humberto Gessinger vão apreciar por deveras. Não fãs de nem uma das três opções, também.

NOTA 9