Novos Talentos - "Tecendo Diários", de Rosy Feros

Na epígrafe deste belo livro de poemas, Rosy Feros cita a escritora Clarissa Estés, para quem toda mulher precisa ter um lugar - seja num diário ou através da arte - onde depositar "tudo o que sentimos e ouvimos da natureza selvagem". No poema que dá título ao livro, Rosy ecoa Clarissa: "Ando tecendo diários, longos tapetes de itinerários / A mulher cavalga o dorso do tempo através de diários."

A autora nasceu em Santos, em 1971 e é formada em Publicidade. A feminilidade é central na poesia de Rosy. Ela se refere à "elemental face de Eva" e se define placidamente: "Me sinto tão cheia de tudo / Sereia serena / Nadando no escuro." ("Nascer é apenas morrer"). Em "Feminina", toca na ambigüidade do gênero: "Mulher é pergunta aberta / indagação sem resposta / mulher é o arco sem a flecha / dúvida sem explicação."

Em outros momentos, a busca pela identidade é mais complexa, com a desorientação e a dor das pessoas que procuram a mudança: "Estou perdida e não me encontro / Há tempos não marco encontro comigo / Estou perdida em contra-campo / em todos os cantos chove em mim." ("Contra-Campo").

Da jornada por suas dúvidas e questionamentos, a poeta cria uma nova face e inverte os mitos e comportamentos atribuídos tradicionalmente às mulheres, como em "Maya": "Maya das estrelas / filha de Eva / costela de Adão / minha anatomia / fere as leis do mundo criado / pois sou nascida / de minha própria mão."

"Tecendo Diários" é o mergulho de uma mulher em si mesma, à procura de respostas que nem sempre são fáceis de achar. Ninguém melhor do que a própria Rosy para definir seu estilo, nos versos do poema "Papiro de Carne": "Não escrevo como quem planta árvores / Escrevo como quem revolve a terra."

[Resenha escrita por Mauricio Santoro para meu livro "Tecendo Diários", publicada na extinta coluna on-line "Novos Talentos", do site "Aqui, em 8/set/2000.]