Soneto de Escusa

Às vezes, quando a noite dói-se lenta,

Cansado o corpo e os olhos já dormentes,

Vacila-se a vigia, e, entrementes,

Do plácido vazio, brame a tormenta.

Às vezes, quando menos se espera,

De onde menos se espera nasce a chaga,

E eversa corpo e alma; mas é vaga -

E uma hora passa, mesmo sendo fera.

Se vivo na inconstância desta vida,

Que vem e volta e vai, mudando tudo,

Se a metempsicose é o que me resta,

Que seja, então, dos ais, que hoje pululam

As feridas ao fim de um velho dia,

Que se alcem as auras do Futuro!

(www.eugraphia.com.br)

Leonardo Antunes
Enviado por Leonardo Antunes em 09/12/2006
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