Face, cruzadas e memórias

Face, cruzadas e memórias

A face sem memórias

Daquela, outrora delícia

Encantada em essência aroma e sabor

Converte-se agora em jovem desolação:

O infindável prelúdio de uma tragédia

Da qual o neófito insiste em dar presságio

Com sua já resignada revolta impotente

A indignação muda se cala de tão aturdida.

Diante de uma alma embriagada em melancolia;

Que devaneia no passado, celebrando o culto fúnebre.

No qual o cadáver da infância é contemplado

Como o distante belo e sepultado.

Então a tristeza insuportável é transvestida no cinismo

Dos que vilipendiam seu desespero com o pior hedonismo pedante.

Até que o ser então distante de sua aura torne-se demasiadamente

Estranho a si próprio para esquecê-la.

Em raros idílios se faz o percurso contrário,

Em direção à lápide que desejamos enterrar.

Às vezes se morre para uma vida que lembramos

Justamente quando nossas lágrimas

Mais precisavam esquecê-la.

Certas vezes, o ser e a existência se fragmentam

O suficiente para iniciar cruzadas contra a consciência

Então, o eu, torna-se o narrador de inenarráveis batalhas,

Nas quais este morre para resistir a si mesmo,

Vezes o bastante para criar terríveis cemitérios de si próprio

E lendárias histórias de seus esquecidos heróis de guerra.

O vento que nos arrepia com uma espécie de medo primitivo

A brisa que nos acolhe com a mais profunda compreensão civilizada

Carregam consigo a voz de uma multidão desfigurada e silenciosa

Até que então, na transa maldita entre magia e técnica,

A face sem memórias se inspira em metamorfose

Até ser consagrada como o juízo do cotidiano:

As memórias sem face.

Vinicius Mecenas Hoffnung
Enviado por Vinicius Mecenas Hoffnung em 05/01/2007
Código do texto: T337813