Face, cruzadas e memórias
Face, cruzadas e memórias
A face sem memórias
Daquela, outrora delícia
Encantada em essência aroma e sabor
Converte-se agora em jovem desolação:
O infindável prelúdio de uma tragédia
Da qual o neófito insiste em dar presságio
Com sua já resignada revolta impotente
A indignação muda se cala de tão aturdida.
Diante de uma alma embriagada em melancolia;
Que devaneia no passado, celebrando o culto fúnebre.
No qual o cadáver da infância é contemplado
Como o distante belo e sepultado.
Então a tristeza insuportável é transvestida no cinismo
Dos que vilipendiam seu desespero com o pior hedonismo pedante.
Até que o ser então distante de sua aura torne-se demasiadamente
Estranho a si próprio para esquecê-la.
Em raros idílios se faz o percurso contrário,
Em direção à lápide que desejamos enterrar.
Às vezes se morre para uma vida que lembramos
Justamente quando nossas lágrimas
Mais precisavam esquecê-la.
Certas vezes, o ser e a existência se fragmentam
O suficiente para iniciar cruzadas contra a consciência
Então, o eu, torna-se o narrador de inenarráveis batalhas,
Nas quais este morre para resistir a si mesmo,
Vezes o bastante para criar terríveis cemitérios de si próprio
E lendárias histórias de seus esquecidos heróis de guerra.
O vento que nos arrepia com uma espécie de medo primitivo
A brisa que nos acolhe com a mais profunda compreensão civilizada
Carregam consigo a voz de uma multidão desfigurada e silenciosa
Até que então, na transa maldita entre magia e técnica,
A face sem memórias se inspira em metamorfose
Até ser consagrada como o juízo do cotidiano:
As memórias sem face.