• RETROSPECTIVA DO TEATRO BRASILEIRO •
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                    (
Do Quinhentismo ao Romantismo)

 
                                     
    
              1 -   INÍCIO DO TEATRO BRASILEIRO
 
Padre José de Anchieta (1534-1597)
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[•]  As primeiras manifestações cênicas no Brasil são obras dos jesuítas, que fizeram teatro como instrumento de catequese. Os colonizadores portugueses trouxeram para a metrópole o hábito das representações, mas não a ajustaram aos preceitos religiosos. Anchieta foi o primeiro, no Brasil, a moldar as representações aos preceitos religiosos, por incumbência do Padre Manoel da Nóbrega. Eram grandes solenidades religiosas, com representações, recitações, cânticos e danças, a que já podemos chamar de teatrais. De maneira, que este jovem evangelizador, é considerado o iniciador do Teatro Brasileiro. 
      Não se pode dizer, a propósito de Anchieta, que tenha sentido vocação irresistível do palco. Na verdade, seus autos parecem mais uma composição didática de quem tinha um dever superior a cumprir: levar a fé e os mandamentos religiosos a uma audiência. Daí, dizer-se que seus “autos” não são propriamente teatro no sentido da literatura dramática. Mas não devemos reduzir a importância da contribuição de Anchieta para o nosso teatro. 
     Um apanhado mais amplo sobre os Autos de Anchieta você pode encontrar em:
http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/52951.

                     2-  O VAZIO DO SÉCULO XVI

[•] Não seria sem razão afirmar, de que não se sabe de outras peças jesuíticas e de textos que tenham sido representados durante o século XVII, pelo menos até agora. O que estudiosos e pesquisadores registram são algumas encenações, aqui e ali, por ocasião de uma exaltação ao trono dos reis portugueses, ou de nascimentos, noivados ou casamentos principescos. Às vezes, se guardava o nome de um autor, como os dos baianos «Gonçalo Ravasco Cavalcanti de Albuquerque e José Borges de Barros e do carioca Salvador de Mesquita»
      Guardaram-se também o título de um ou outro texto. De modo geral, se desconhece o assunto da obra, restando somente a indicação do festejo e a respectiva data. 
      Se não se pode afirmar que "Alvarenga Peixoto", poeta da plêiade mineira, tenha de fato composto um drama «Enéias no Lácio» e que este tenha sido representado. Menos ainda, que outro poeta, do mesmo grupo, "Cláudio Manoel da Costa", tenha composto “poesias dramáticas” que, segundo declaração sua, "se tinham muitas vezes representado nos teatros de Vila Rica”

      Todavia, há uma única exceção, até que novos fatos venham modificar os atuais. Foram registradas duas peças do baiano«Manoel Botelho de Oliveira» (1637-1711), Hay Amigo para Amigo e Amor Engaños y Celos. As comédias foram escritas em espanhol, de acordo com os modelos hispânicos - o teatro português vivia de peças estrangeiras e, porventura também o Brasil. Estas comédias, pois, de brasileira só tem a circunstância de estar no Brasil. E, pelo que se sabe, nunca foram representadas, assemelham-se mais a exercícios literários, feitos por alguém que tinha certo gosto, porém pouco espírito criador. Assim mesmo, deram-lhe o título de primeiro "comediógrafo brasileiro"
      Os críticos, observam que "Hay Amigo para Amigo" é uma réplica de “No Hay Amigo para Amigo”, de Francisco Roja Zorrilha, e “Amor, Enganos y Celos” se parece a “La Más Constante Mujer”, de Juan Peres Montalván. Tanto em um como no outro, réplica ou não, os versos demonstram habilidade e leveza, sem serem demasiado insossos apesar dos longos monólogos. 

Hay Amigo para Amigo
[•] É
uma comédia de intriga amorosa. D. Diego e D. Lopes amam Leonor, que gosta do primeiro. Já a segunda comédia, que também é de intriga amorosa, a trama gira em torno de Violante (irmã do Duque de Mântua) que faz-se passar por Margarita (falsa), a fim de pôr a prova o amor de Carlos, que acaba gostando da falsa Margarita. O Duque gosta também da Margarita, só que a real e, daí, nasce o conflito entre os dois personagens. 

                          3 - A PRESENÇA DO ATOR 

João Caetano de Souza (1808 -1863)
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A influência dos hábitos culturais da Corte portuguesa, transferida para o Rio de Janeiro em 1808, foi fundamental para a valorização do teatro na sociedade carioca do começo do século XIX. Companhias portuguesas de teatro e ópera passaram a visitar o Rio de Janeiro periodicamente, difundindo o gosto por esse tipo de atividade artística e criando condições para que, na década de 1830, surgisse um movimento em prol da criação de um teatro brasileiro, em consonância com o clima nacionalista da época.
      Coube ao ator e empresário João Caetano de Souza fundar em 1833, a "Companhia Dramática Nacional", com a finalidade de acabar com a dependência de nossos atores aos conjuntos portugueses que relegavam aos atores brasileiros papéis secundários por ciúme artístico; de maneira, que todo o elenco da companhia eram brasileiros. No ano seguinte deu a seu teatro o nome de Teatro Nacional João Caetano.
     João Caetano era dotado de verdadeira intuição artística além de ser um estudioso dos problemas da arte de representar. Reformou completamente a arte dramática no Brasil. Antes dele, a declamação era uma espécie de cantiga monótona, como uma ladainha. Nosso Ator substituiu aquela cantilena pela declamação expressiva, com inflexões e tonalidades apropriadas, ensinou a representação natural, chamou atenção para a importância da respiração e mostrou que o ator deve estudar o caráter da personagem que encarna, procurando imitar, não igualar a natureza. Na época não era muito grande o número de atores letrados. Eram poucos também os que conseguiam ter uma visão globalizante do fenômeno teatral, do texto ao palco e da bilheteria ao bastidor. Tinha João Caetano certa parecença física com Napoleão, o que deve tê-lo ajudado na carreira, ainda que de modo secundário. João Caetano foi considerado o maior ator de todos os tempos no Brasil.
     Não foi por menos, que quando Gonçalves de Magalhães precisou de um elenco para «Antônio José ou O Poeta e a Inquisição» procurou o já consagrado intérprete João Caetano dos Santos e sua companhia teatral. 

                4 -  O NACIONALISMO NO TEATRO 

Gonçalves de Magalhães (1811-1882)
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Foi a 13 de março de 1838 que subiu à cena no teatro Constitucional Fluminense, no Rio, a peça Antônio José ou o Poeta e a Inquisição, cujo prefácio traz as seguintes palavras do autor: “Lembrarei somente que esta é, se não me engano, a primeira tragédia escrita por um brasileiro, e única de assunto nacional”. O assunto nacional era a vida do dramaturgo brasileiro Antônio José da Silva (1705-1739), que o poeta Magalhães retirou do domínio português, embora a ação da peça transcorra em Lisboa, onde ele foi queimado, em auto-de-fé, por suposta prática de judaísmo (religião que mantinha secretamente). Sobre a peça, observa o poeta: “Desejando dar início a minha carreira dramática por um assunto nacional, nenhum me pareceu mais capaz de despertar as simpatias e as paixões trágicas do que este”.
        Garrett, o criador do teatro romântico português, escreveu também em 1938, depois de nossa peça, sobre a existência trágica do autor de Guerras do Alecrim e Manjerona, cujo berço no Rio atestava-lhe a brasilidade.
Magalhães fantasiou ao seu inteiro arbítrio a trama, porque lhe faltaram, na época, informações mais pormenorizadas sobre a vida do poeta ou, pelo desejo romântico de moldá-lo ao esquema de vítimas de uma injustiça mais poderosa.
        A ação tem seus momentos decisivos na figura de Frei Gil, que persegue Antônio. Mas não o faz com propósitos religiosos e sim porque quer afastar de Antônio José a atriz Mariana, na esperança de conquistá-la. Como o herói repele a investida do frade contra a amada, a vingança do vilão será destruí-lo nos cárceres inquisitoriais.
        Foi o Romantismo, com o qual se iniciou a nossa literatura nacional, o criador também do nosso teatro. Na sua primeira fase, o Romantismo, produziu também Martins Pena, e logo depois Gonçalves Dias e José de Alencar. E este é o assunto da segunda parte desta retrospectiva. ®

 
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Ajudaram na elaboração deste texto:
História do Teatro Brasileiro, de Carlos Mendonça.
O Teatro no Brasil, de Múcio da Paixão.
Panorama do Teatro Brasileiro, de Sábato Magaldi. 
História da Literatura Brasileira, de José Veríssimo.
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