A Literatura é forma de humanização do sujeito

CEFET – Departamento de Linguagem e Tecnologia

Curso de Letras - Disciplina: Teoria da Literatura I

Profa.: Andréa Soares Santos

Luís Antônio Matias Soares

“A Literatura é forma de humanização do sujeito” – quando os leitores se contam aos milhares

- A literatura como meio de aprimoramento da pessoa, transformando o sujeito em pessoa melhor, mais solidário com os sofredores ou perseguidos: ao ler, nos colocamos na pele de outras pessoas, conduzindo à identificação do leitor com as personagens ou cenas, fazendo-nos pessoas mais sensatas, experientes e justas.

- A ideia da literatura grande literatura, da obra capaz de nos humanizar e fazer escapar da alienação se contrapõe à ideia de outro tipo de literatura (romances policiais, de aventura, sentimentais, faroeste, histórias em quadrinho, fotonovelas) definido a partir do conceito de cultura de massa (alienadora, válvula de escape para as frustrações do dia a dia, personagens sem densidade psicológica, linguagem simples e sem dificuldade aparente, conformista, com personagens idealizados vivendo situações irreais e previsíveis ou com falsos problemas que se resolvem de maneira mágica, propondo ao leitor a se esquecer dos problemas do mundo e jamais se questionar ou ao próprio mundo).

- A grande literatura, ao contrário, promoveria o desenvolvimento intelectual, o sentido ético e um olhar mais aguçado sobre a realidade. Diante dessa ideia o autor contrapõe a percepção de que a leitura da boa literatura (que busca nos tornar mais humanos e justos) não impediu e não impede que leitores dela sejam capazes de praticar certas ações que nos horrorizam, como os comandantes alemães que foram presos portando livros de Goethe, por exemplo. A definição de literatura enquanto fonte de humanização não se sustentou diante de tais fatos: existe gente muito boa que nunca leu um livro e gente péssima que vive de livro na mão.

- Pesquisa sobre Paulo Coelho: a pesquisa mostrou que 76,6% dos leitores da Feira do Livro em Buenos Aires tem nível universitário e 66% dos leitores do Rio de Janeiro também.

- Graciela, Giulia e Edilson: na biblioteca das duas primeiras, Paulo Coelho convivem com livros que compõem a grande literatura, Proust, Tolstoi, Shakespeare, etc. Todos os três fazem uma valorização positiva de livros (Paulo Coelho) que os críticos consideram fora da grande literatura, considerando-os excelentes. Os três percebem as obras de Paulo Coelho como uma leitura para agir, pensar e fruir, uma experiência de construir e resolver formas específicas de aflição, reflexão sobre a espiritualidade e o sentido da vida, uma maneira de não estar passivo diante do mundo (ao contrário do que os críticos acreditam acerca dos livros Best Sellers).

- Conclusão: mesmo quem lê a grande literatura, pode apreciar os Best Sellers e fazer deles leituras instigantes. Enquanto os críticos veem Paulo Coelho como uma literatura menor ou livro de autoajuda ou espiritualista, os leitores o identificam como romancista literário e o colocam lado a lado com os autores da literatura universal.

- Leitores de romances vendidos em banca de jornal, tipo Sabrina, Bianca, Momentos Íntimos, etc., os identificam igualmente como textos literários.

- Análise de leitores destes livros: capacidade do narrador de envolver o leitor, linearidade da ação, possibilidade de evasão, tramas interessantes, ao lado de um Machado de Assis que peca por ser muito descritivo, não saber criar um clima envolvente em suas histórias, indo e vindo no mesmo assunto (sem linearidade).

- Filme Louca Obsessão: O livro narra o encontro entre Paul Sheldon (Sidney Sheldon, imagem estereotipada do escritor de Best Sellers) e a sua fá número 01. Sheldon é autor de uma série, Best Seller que vende milhões de exemplares, jamais foi reconhecido pela crítica mas se tornou um milionário com a venda dos livros. Depois de publicar oito livros sobre a série Misery, resolve se tornar um escritor de respeito, mata a personagem principal da série e se põe a escrever uma obra que poderia ser qualificada como de boa literatura. A leitora Annie Wilkes (imagem estereotipada da leitora de Best Sellers, vida infeliz com a escapatória nos livros, discos de Liberace e enlatados da TV) o salva de um acidente de carro, mas ao saber que Sheldon matou a personagem Misery e que escrevera uma nova obra erudita e realista (o livro trata da realidade, tem palavrões , não tem nobreza, etc.), a relação de amor da leitora para o escritor se transforma em ódio.

De cuidadora e enfermeira do escritor, Annie passa a agir de forma violenta com o escritor. Ela o prende e mostra que o controle exercido pelo leitor não é apenas através da violência do momento, mas o controle literário do mercado e do leitor em si, com os intelectuais sendo forçados a cumprir as expectativas dos leitores para sobreviver. Na indústria cultural as expectativas do leitor tem que ser alimentadas (clichês do escritor comercial e da leitora de Best Seller, enredo padronizado com uma maneira irreal e mágica de trazer a personagem Misery de novo à vida, etc.)

- Final feliz: Annie, a perseguidora, morre e o herói (Sheldon) se salva, fórmula padronizada do filme. Sentimos medo, torcemos por Paul Sheldon, odiamos Annie Wilkes. O filme nos faz experimentar o veneno que criticamos. Diante do filme, criticamos a leitora de Best Sellers e o escritor, mas agimos e reagimos exatamente como eles diante de um roteiro cheio de clichês (música, cortes, sequências padronizadas, etc.)