A TRAJETÓRIA DO ROMANCE

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Estudos Literários

 

A História de Tom Jones (Inglaterra, 1749), de Henry Fielding, tem sido considerada a obra introdutora do romance, embora ainda comprometida com a técnica da novela. A Princesa de Clèves (1678), de Madame de Lafayette, obra anterior, merece referência como precursora do romance.

No século XIX o romance se consolida e passa a dominar, embora, às vezes, confundido com a novela ou com ela dividindo seu poder de influência. Até então, os romances não apresentavam características inovadoras. Mas, em 1842, Honoré de Balzac (1799-1850), escritor francês, publica à sua La Comédie Humaine (A Comédia Humana, 17 volumes), alusivo a Divina Comédia de Dante, e torna-se o verdadeiro criador do romance moderno. Na Comédia Humana, Balzac mostra obsessão pelos detalhes: seus heróis são seres de carne e osso que comem, bebem e se relacionam sob o domínio de paixões fortes. Fica-se conhecendo exaustivamente o físico, o vestuário, o prestígio, a fortuna, a posição social e o domicílio da sociedade burguesa da época. Tudo variando entre sátiras e críticas (indulgentes e profundas). Honoré de Balzac tornou-se o mestre dos que vieram depois, a ponto de dividir a história do romance em duas grandes épocas: antes de Balzac e depois de Balzac.

Nos fins do século XIX, a Literatura Russa, que antes vivia à margem do romantismo Europeu, surge com um tipo de narrativa inteiramente nova em que se privilegiam os pensamentos e os sentimentos, fruto de uma análise psicológica em profundidade. A novidade fascinou a Europa e, Fiodor Dostoievski, (1821-1881), escritor russo, autor de um dos conjuntos de obras mais fascinantes da literatura universal, pelo estilo e temática, tornou-se mestre de uma das vertentes do romance moderno, o da prospecção psicológica ou romance psicológico.

No começo do século XX uma nova revolução se opera na estrutura do romance. Desta vez é Marcel Proust, (1871-1922), escritor francês, com A Procura do Tempo Perdido (1930). Um ciclo de romances sobre a sociedade francesa. Sua obra desrespeita a coerência formal do romance tradicional e leva mais fundo a sondagem psicológica. O romance ganha horizontes imprevisíveis. E de Proust nasce toda a grande revolução operada no romance moderno.

André-Paul-Guillaume (1869-1951), escritor francês, vindo um pouco depois de Proust, com o romance Journal (Diário), alarga as conquistas da sondagem interior através da disponibilidade psicológica. A teoria do acte gratuit (ato gratuito) - a liberdade humana de optar, por exemplo, pelo suicídio, pelo homossexualismo - torna as personagens e, conseqüentemente, o romance muito mais próximo da "verdade" vital, isto é, duma aproximação maior com a vida, ânsia perene do romance desde o seu nascimento.

Com Aldous Leonard Huxley, escritor e ensaísta inglês, autor de Contraponto (1928) e Admirável Mundo Novo (1932), é clara a idéia: não há, rigorosamente, dramas individuais. Só há dramas coletivos feitos da soma de transes individuais e de crises próprias de todos. A angústia amorosa, financeira, filosófica, etc., cresce quando um indivíduo encontra outro, inteiramente mergulhado em drama. A troca de problemas, ao invés de diminuir o sofrimento, aumenta-o. Vem daí o suicídio ou qualquer outra forma de paliativo, que na verdade, resulta no mesmo: a terrível angústia do mundo moderno e a desumanização do homem. De lá para cá, temos uma série de escritores notáveis, como: Virgínia Woolf, Franz Kafka, Hermann Broch e tantos outros.

O ROMANCE NO BRASIL

No Brasil o Romance começou praticamente com o Romantismo Brasileiro. Antes, porém, havia um livro bastante significativo (da estética barroca em prosa), o Compêndio Narrativo do Peregrino da América (1728), de Numo Marques Pereira. Também é precursor Aventuras de Diófanes (1752), de Teresa Margarida da Silva e Horta. Mas, na realidade, com técnica narrativa do Romance, só com o Romantismo é que se firmaria. Vários autores lhe deram início: Lucas José de Alvarenga (1768 – 1831), Francisco Adolfo (1816 – 1884), Joaquim Norberto de Souza e Silva (1820 – 1891). Entretanto, é dado como seu introdutor Antônio Gonçalves Teixeira e Souza com o romance O Filho do Pescador, 1843.

É no apogeu do Romantismo que, de fato, começa de vez seu cultivo entre nós, com Joaquim Manoel de Macedo (A Moreninha, 1844). Mas é com José de Alencar (O Guarani, 1857), que passa a ser mais largamente cultivado. Deve-se a Alencar a fixação do gênero, nos seus aspectos estrutural e temático. O Romance brasileiro, da época, estava ligado a figurinos europeus e americanos, propunha-se também a valorizar os temas nacionais (o indianismo, o sertanismo, os temas históricos e urbanos). Bernardo Guimarães, Franklin Távora e outros; ora na formula indianista, ora na sertanista, ora na regional, ora na urbana, deram forma definitiva ao romance brasileiro. Com Machado de Assis, Aluísio de Azevedo, Raul Pompéia e outros (Realismo), o romance brasileiro atingiu um alto grau de força e representatividade em relação ao ambiente brasileiro; vive um período de grandeza indiscutível, mas ainda sob influência de correntes européias. Lima Barreto e Graça Aranha intentam, à luz das doutrinas simbolistas, nacionalizar ainda mais o romance.

Mas é com o Modernismo que o romance no Brasil chega ao seu apogeu. A partir daí vem surgindo nomes de primeira categoria: Jorge Amado, José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Érico Veríssimo, Osman Lins e tantos outros. ®Sérgio.

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Para maiores informações a respeito do assunto ver: Alfredo Bosi - História Concisa da Literatura. / Massaud Moisés - A Criação Literária.

Se você encontrar erros (inclusive de português), faça a gentileza de avisar-me.

Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquer comentário. Volte Sempre!

Ricardo Sérgio
Enviado por Ricardo Sérgio em 10/02/2007
Reeditado em 13/09/2012
Código do texto: T376235
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