A ORIGEM DO ROMANCE E DO TERMO

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Estudos Literários

 

“O romance é considerado, por alguns estudiosos, a mais independente, a mais elástica, a mais prodigiosa, a mais completa de todas as formas artísticas”.

 

Herdeiro da Epopéia, o Romance é um gênero da literatura que pertence ao modo narrativo, assim como a Novela e o Conto. O Romance é uma história que se conta, em geral, por meio de uma seqüência de eventos que envolvem personagens em um cenário específico. Segundo Massaud Moisés (A Criação Literária), o objetivo essencial do Romance, é o de reconstruir, recriar a realidade. Não a fotografa, mas recria. O autor reconstrói a seu modo, um mundo seu, uma vida sua, recriados com meios próprios e intransferíveis, conforme uma visão particular, única, original.

 

[] O TERMO

Há duas hipóteses sobre a origem do termo “romance”:

a) Pode ter-se originado de romans (vocábulo da língua provençal) que por sua vez deriva da forma latina romanicus;

b) ou teria vindo de romanice (hipótese mais convincente) que designava qualquer obra escrita em romanço, língua falada nas regiões ocupadas pelos romanos, e que já se diferenciava do latine loqui (falar latino); essa diferenciação foi resultado da fusão do latim vulgar com a língua de um povo conquistado pelos romanos (entre as línguas românicas está a portuguesa).

 

[] PEQUENO HISTÓRICO

Dessas hipóteses vem o termo primitivo Romanço, que passou a rotular obras de cunho popular e folclórico. E, como estas eram de caráter predominantemente imaginativo e fantasista, o termo servia para caracterizar essas narrativas, tanto em prosa, como em versos. Daí o caráter ficcional do romance. No primeiro caso, ou seja, entre as obras em prosa, estão os chamados romances ou novelas de cavalaria, que foi o costume durante os séculos medievais. Narravam proezas praticadas pelos cavaleiros andantes. No segundo, estão, por exemplo, o Roman de la Rose e o Roman de Renart (célebres poemas franceses do século XII), o primeiro de caráter amoroso e o segundo de cunho satírico, mas ambos de intuito moralizante.

Entretanto, foi na Espanha que o romanço em versos se tornou comum. Cultivou-se tanto que, por pouco, não se tornou uma forma literária exclusivamente espanhola.

O termo romance começou a ser aplicado e tomou a forma que hoje conhecemos em meados do século XVIII, junto com o Romantismo. Romance e Romantismo se ajustavam perfeitamente com o novo espírito literário, motivado pelo natural desgaste das estruturas sócio-culturais da época. A Epopéia, então, já desgastada, cede definitivamente lugar a uma nova forma artística: O Romance. O mesmo se dá com a poesia, que abandona o exclusivismo dos salões esnobes, das cortes artificiais, e populariza-se.

O Romance tinha o objetivo de constituir-se no espelho do povo, refletir de maneira fiel a imagem da sociedade. Para tanto, procura abranger tudo quanto era forma e recurso de expressão literária. Quebravam-se, assim, as regras e modelos.

“Servindo a burguesia em ascensão, o romance tornou-se porta-voz de suas ambições, desejos, vaidades, e, ao mesmo tempo e, sobretudo, ópio sedativo ou fuga da materialidade diária, [...], oferecendo-lhes a própria existência artificial e vazia como espetáculo [...]. Portanto, sem saber, gozam o espetáculo da própria vida como se fora alheia, estimulando desse modo uma forma literária que funcionava como espelho em que se miravam, [...]. Na verdade, oferecia-se aos burgueses a imagem do que pretendiam ser, do que sonhavam ser e não do que, efetivamente, eram.” (MOISÉS, Massaud; A Criação Literária, 1973, p.188.)

 

[] O Emprego do Termo em Outras Línguas

Em Inglês, usa-se «novel». Os dicionários registram a forma romance, mas apenas para narrativas fabulosas ou fantásticas (ex.: romance de cavalaria).

ü    Em Francês, emprega-se roman.

ü    Em italiano, existe a forma romanzo.

ü    Em alemão roman; nessas línguas o termo novela (nouvelle, novella, novelle) fica reservado para narrações mais breves, de um tamanho entre o romance e o conto.

ü    Em Espanhol, o termo novela corresponde ao nosso romance. Romance ficou reservado para as narrativas curtas em versos.

“Afora a denotação literária, cumpre lembrar o sentido pejorativo adquirido pela palavra ‘romance’. Quando alguém nos conta um [caso] longo e imaginoso [...] nos salta a seguinte observação: ‘Está fazendo um romance do caso!’ Ou ainda: ‘também pudera, vive lendo romance o dia inteiro!’ O vocábulo pode igualmente rotular o encontro amoroso de dois sexos: ‘O romance entre eles vinha de longe’! [...].” (MOISÉS, Massaud, A Criação Literária, 1973, p.181.)

 

[] ROMANCEIRO

A transmissão dos primeiros romances escritos encontrou grande obstáculo no analfabetismo das populações. Daí decorre que sua divulgação passou a depender dos recitadores, cantores e músicos medievais que apresentavam seu repertório musical e literário oralmente (nas feiras, castelos e cidades). Primitivamente, romanceiro designava uma antologia desses textos anônimos transmitidos oralmente e depois compilados. Mais tarde romanceiro passou a referir-se a antologias de textos populares. ®Sérgio.

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Ajudaram na elaboração deste glossário: Alfredo Bosi - História Concisa da Literatura.

Assis Brasil - O Romance, A Poesia, O Conto, A Crítica - A Nova Literatura.

Massaud Moisés - A Criação Literária.

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