A Exposição NO RÍTMO DA POESIA: MÚSICA E AMIZADE EM MÁRIO DE ANDRADE E VINÍCIUS DE MORAES

CEFET - Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais

Departamento de Linguagem e Tecnologia – Graduação em Letras

Disciplina: Teoria da Literatura II – 2º. Período

Professor: Roniére Menezes

Aluno: Luís Antônio Matias Soares

A Exposição NO RÍTMO DA POESIA: MÚSICA E AMIZADE EM MÁRIO DE ANDRADE E VINÍCIUS DE MORAES, organizada no CEFET/MG pelo professor de Teoria da Literatura II, Roniére Menezes, nos remete de maneira muito amorosa e agradável a um extenso mural relativo ao contexto da vida, da obra e da personalidade destes dois ícones da arte e da cultura brasileira.

Apreende-se durante a viagem propiciada pela leitura dos banners acerca da real importância dos autores para as artes da música e da poesia em especial e para a cultura nacional de uma forma mais ampla e geral. Surgem diante de nós as muitas semelhanças partilhadas e compartilhadas pelos dois poetas. Vemos tais assonâncias, por exemplo, na dedicação e no afeto que ambos sempre mantiveram para com os seus amigos; no fato singular de terem sido concomitantemente músicos e versificadores e haverem programado e participado de inúmeras viagens pelo Brasil no objetivo de (re)descobrirem o país em que viviam, com o Mário adentrando o interior do país e o Vinícius se dirigindo à Bahia do candomblé, do batuque e do berimbau; vemos ainda em suas vidas a presença marcante da cultura negra (ele próprio, o Mário, um negro; e o Vinícius, por outro lado, se autodesignando como o mais negro de todos os brancos) e o anseio de se fazerem aglutinadores da juventude artística e disseminadores de uma arte poética e musical essencialmente brasileira.

Neste sentido e em seu próprio tempo, Vinícius se apresenta com certo ar de discípulo resignificador dos objetivos propostos por Mário de Andrade em sua época: o incremento da cultura brasileira e sua ascensão. Mário, um adepto da Antropofagia, é dos primeiros divulgadores e, por que não dizer, descobridores do folclore nacional, do patrimônio histórico e da música brasileira. E Vinícius, dentro de sua especificidade poética e musical, meio que se firmou como um prosseguidor da obra desbravadora do poeta paulistano.

E hoje, comemorando os noventa anos da Semana de Arte Moderna (São Paulo, de 13 a 17 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal), tem-se na atual exposição tanto uma homenagem a esses dois grandes artistas da brasilidade quanto uma excelente oportunidade de reencontrarmos o evento que marcou e demarcou um importante momento da cultura brasileira: o modernismo.

Poesia: Descobrimento – Mário de Andrade

Abancado a escrivaninha em São Paulo

Na minha casa da Rua Lopes Chaves

De repente senti um friúme por dentro.

Fiquei trêmulo, muito comovido

Com o livro palerma olhando pra mim.

Não vê que me lembrei que lá no norte, meu Deus! Muito longe de mim

Na escuridão ativa da noite que caiu

Um homem pálido, magro, de cabelo escorrendo nos olhos,

Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,

Faz pouco se deitou, está dormindo.

Esse homem é brasileiro que nem eu.

Neste poema Mário de Andrade faz uso de palavras e construções típicas da fala popular, bem como procede ao descobrimento e à denúncia de determinados aspectos da realidade brasileira. “Descobrimento” é um poema no qual o autor não se utiliza de nenhuma espécie de metrificação ou rima e onde o leitor pode perceber com facilidade a liberdade de escrita tão característica do movimento modernista.

Tem-se, por exemplo, a utilização de palavras e expressões populares como “friúme”, “comovido”, livro “palerma”, “faz pouco” e “que nem eu”. Como viajante conhecedor e divulgador de alguns dos variados brasis e suas múltiplas culturas, Mário nos apresenta em seus versos uma realidade diferente tanto da dele quanto da nossa, cidadãos urbanos dos dias atuais: ele pincela diante de nós a presença de um trabalhador do norte do país, especificamente um seringueiro, e nos informa que este, apesar de seu distanciamento no tempo e no espaço, é tão brasileiro quanto nós. Já no próprio título do poema, “Descobrimento”, o autor nos remete à ideia da (re)descoberta desses brasis que nos constituem e que tantas vezes se acham irreconhecíveis ou não reconhecidos pelos demais irmãos desta terra.