Resenha: Da Fala para a Escrita, de Luiz Antônio Marcuschi

CEFET - Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais

Departamento de Linguagem e Tecnologia – Graduação em Letras

Disciplina: Oficina de Texto Literário – 2º. Período

Professora: Ana Virgínia

Aluno: Luís Antônio Matias Soares

Resenha do Livro

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. – 4.ed – São Paulo: Cortez, 2003.

Na obra que se vai resenhar, Da Fala Para a Escrita - Atividades de Retextualização, de autoria do professor pernambucano e pós-doutor em questões de oralidade e escrita (1987), Luiz Antônio Marcuschi, o autor incumbiu-se inicialmente de apresentar e discutir as principais diferenças e semelhanças entre as modalidades da língua escrita e falada, bem como sobre o letramento e a oralidade.

O livro de Marcuschi é composto por dois capítulos que se completam e se explicam no decorrer de suas 125 páginas. No capítulo inicial, Marcuschi tece interessantes considerações sobre o uso da oralidade e da escrita nas práticas da vida diária das sociedades atuais e propõe que língua e texto não são instituições estanques nem separadas ente si, mas que se apresentam e formam um importante conjunto integrado de práticas sociais e culturais. Para o autor, as línguas se fundam em seu uso, isto é, não são as regras nem a morfologia linguística que forjam os usos e as variações de determinada língua, mas as formas que se adéquam ao uso da mesma.

Neste sentido, Marcuschi nos alerta acerca da pouca importância existente no fato da faculdade da linguagem ser ou não um fenômeno inato e universal, mas que a importância existe é no uso social que fazemos desta capacidade, assim como na inserção cultural, humanizadora e socializadora presente nos usos da língua.

Este fazer e esta utilização (da língua) são o ponto central do estudo abordado no livro de Marcushi: os usos e as práticas sociais da língua em suas formas escrita e oral e a intercambialidade existente entre elas. O autor discorre então acerca da ideia de que oralidade e escrita são práticas e usos da língua que apresentam características próprias, mas que não são opostos nem dicotômicos entre si. Ambos permitem a construção de textos coesos e coerentes, bem como a elaboração e a exposição de ideias e sentimentos e que a suposta concepção da supremacia da escrita sobre a fala não passa de um mito.

Marcuschi admite a importância da escrita nos tempos e nas sociedades atuais. Mas segundo ele não se deve ter para com a escrita qualquer espécie de supervalorização ou conceito de superioridade. A distinção real que se deve ter é a da oralidade enquanto prática social interativa para fins comunicativos realizada sob formas sonoras e a caracterização da escrita por sua finalidade comunicativa realizada de forma gráfica (formas alfabéticas, ideográficas, iconográficas etc.).

Finalmente o autor nos apresentas os vários campos de visões existentes acerca da pesquisa em relação à fala e à escrita: a visão imanentista, com sua perspectiva dicotômica, sendo a fala o lugar do erro e do caos gramatical e a escrita como o lugar da norma e do bom uso da língua; a visão culturalista, onde a escrita é vista como um avanço na capacidade cognitiva dos indivíduos e nos processos do pensamento em relação à língua falada; a visão variacionista, uma posição intermediária entre as duas anteriores; e, finalmente, a visão sociointeracionista, da qual o autor faz parte, e que é apresentada e desenvolvida em todo o decorrer desta obra.

No segundo capítulo, Marcuschi apresenta toda uma pesquisa onde aborda principalmente a questão da retextualização na reprodução de textos falados para textos escritos. Nesse sentido, tece úteis e esclarecedoras observações sobre variados aspectos da retextualização como a compreensão e a transcrição de um texto e o uso das convenções; a diferenciação entre transcrição, retextualização (processo muito comum no dia a dia e presente em todas as atividades em que a língua oral ou escrita é empregada), transcodificação (passagem direta do sonoro para o gráfico), adaptação e paráfrase; e, por fim, questões relativas aos propósitos e objetivos da retextualização, a relação entre o produtor do texto original e o transformador, entre o gênero textual original e o gênero produzido na retextualização e os processos de formulação típicos de cada modalidade.

Observe-se, finalmente, que o texto de Marcuschi é de fácil leitura e compreensão, sendo apresentado e disposto de forma bastante didática e agradável. Além do mais, a obra é de leitura obrigatória não só para o professor de português ou o estudioso de questões linguísticas relacionadas a nossa língua, mas ainda para uma extensa gama de outros profissionais que lidam com a palavra ou queiram simplesmente refletir sobre um tema que ainda hoje se encontra atual e questionador.