BERNARDO GUIMARÃES E O ROMANCE DE TESE

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Estudos Literários

 

Este estudo literário, fiz no primeiro ano do curso de letras. Na época, para examinar as características do romance de tese, escolhi O Seminarista, de Bernardo Guimarães¹. Acompanhe:

O SEMINARISTA (narrativa romantizada de um fato real)

• A ação se passa no interior de Minas Gerais. Eugênio é filho do Capitão Antunes e Margarida é filha de dona Umbelina, uma simples empregada, que mora na fazenda do Capitão.

"Era uma bela tarde de janeiro. Dois meninos brincavam à sombra das paineiras: um rapazinho de doze a treze anos e uma menina, que parecia ser pouco mais nova do que ele."

• Dessa convivência nasce o amor. Mas os pais de Eugênio, cristãos fervorosos, querem que ele seja padre e a amizade com Margarida é vista como um risco a vocação do menino. Para evitar que o caso de amor progrida, os pais de Eugênio - o qual é a personificação da timidez - resolvem interná-lo no seminário de Congonhas do Campo, obrigando-o a seguir a carreira eclesiástica.

"O rapaz era alvo, de cabelos castanhos, de olhar meigo e plácido e em sua fisionomia como em todo o seu ser transluziam indícios de uma índole pacata, doce e branda."

• O tempo passa e Eugênio não esquece Margarida. Sentimento que é reforçado pelos estudos e a tradução de poemas bucólicos latinos que lhe provocam fortes recordações. Não consegue ocultá-los e é punido pelos seus superiores com severas penitências. Os castigos debilitam sua saúde, e por isso, retorna à fazenda para repouso. Reencontra-se com Margarida e percebe, definitivamente, ser ela o seu grande amor. No entanto, é obrigado a voltar ao seminário, contudo troca juras de amor eterno com Margarida.

• Com a ajuda dos padres superiores, o Capitão forja a notícia do casamento de Margarida. Eugênio tomado de forte desilusão ordena-se padre.

• De volta à vila de Tamanduá, ele é chamado a confessar uma enferma em estado grave. Ao chegar a casa descobre que é Margarida. Ela lhe conta toda a verdade, tinha sido expulsa da fazenda com sua mãe, que morre logo depois, motivo pelo qual passava necessidades. Não havia casado, porque ainda o amava. Eugênio sente renascer a paixão e consuma-se o sacrilégio.

• No dia seguinte, atormentado pelo remorso, prepara-se para celebrar sua primeira missa, quando presencia a chegada de um cortejo fúnebre. Margarida jazia morta no caixão. Eugênio não resiste ao choque; tresloucado, abandona suas vestes aos pés do altar e retira-se da igreja. Enlouquecera.

BERNARDO GUIMARÃES E O ROMANCE DE TESE

Quando um físico, matemático, filósofo, pensador, etc. desenvolvem um trabalho sobre um tema qualquer, não seria sem razão dizer que foi desenvolvida uma tese.

Quando um escritor compõe uma narrativa com o propósito de mostrar e defender suas reflexões morais, éticas, filosóficas ou religiosas, ele está compondo um romance de tese.

Em “O Seminarista” podemos facilmente perceber que a ação das personagens, os acontecimentos e o desfecho da narrativa, converge para um problema religioso: o celibato clerical. O celibato clerical foi objeto de ampla discussão por parte dos escritores brasileiros e portugueses. Bernardo Guimarães usa a narrativa para fazer uma análise crítica da imposição do celibato religioso, que deforma o homem. Através da trama da narrativa, do conflito das personagens, ele nos expõe as causas e as consequências dessa imposição religiosa. Também está colocado o autoritarismo familiar, a ponto de o capitão Antunes não permitir que o filho siga o seu próprio caminho na vida.

O romance de tese tem uma função moralizadora, denunciando os aspectos negativos da sociedade, induzindo os leitores a fazerem algo para melhorá-la.

A punição de Eugênio com a loucura tem o exato objetivo de uma prevenção social e a educação dos costumes.

O Seminarista e Escrava Isaura, obras mais lidas de Bernardo, devem mais sua popularidade ao protesto contra a imposição religiosa no primeiro e a escravidão no segundo, do que a romanceação dos fatos. Apesar de Bernardo ser classificado pelo conjunto de sua obra, como um escritor romântico, não obedece em o Seminarista e Escrava Isaura, à linha ideológica do romance romântico. Não há neles o propósito de divulgar e afirmar os ideais burgueses. Bernardo Guimarães, ao contrário, toma uma posição de protesto, de refutação aos padrões estabelecidos pela burguesia. Seus romances já apresentam uma tendência realista na focalização da realidade. Antecipando, assim, o romance de tese de Inglês de Souza, O Missionário. ®Sérgio.

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1 - Bernardo Joaquim da Silva Guimarães, poeta e romancista brasileiro [1825-1884]. É patrono da cadeira nº. 5 da Academia Brasileira de Letras.

Ajudaram nesse estudo: Bosi, Alfredo – História Concisa da Literatura Brasileira, 3ª. Ed., São Paulo, Cultrix,1976. / Merquior, José Guilherme – De Anchieta a Euclides, 1ª. Ed., Rio de Janeiro, Topbooks, 1977.

Se você encontrar erros (inclusive de português), relate-me. Só enriquecerá o texto.

Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquer comentário. Volte Sempre!

Ricardo Sérgio
Enviado por Ricardo Sérgio em 05/10/2007
Reeditado em 07/06/2012
Código do texto: T681604