JAIME CAETANO BRAUN

Carmen Cristal

 

Um filho que o Sul afaga,
E quero-quero conhece!...
Nasceu em São Luiz Gonzaga!
De Porto Alegre, foi em prece...

Poucos cantaram a terra,
De como, ele cantou!... Guerra,

Feitos Farrapos, propaga!...
Nas tertúlias enobrece!...
Um filho que o Sul afaga
E quero-quero conhece!...

 

 

Brindo à grande figura de Jaime Caetano Braun

com a "taça do Redonde" e o vinho da serra gaúcha!...

 

Botucatu-SP 

 

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*Redonde é um estilo poético criado por

Francisco de Assis Góis.
Conheça a sua teoria literária seguindo o link:

https://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/7124216

 

HOMENAGEM AO GRANDE GAÚCHO 

Jaime Caetano Braun – O Payador

 

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PAYADA

Jaime Caetano Braun

 

Raízes, troncos, ramagens

Ramagens, troncos, raiz

Abriu-se uma cicatriz de onde brotei na paisagem

O tempo me fez mensagem que os ventos pampas dirigem

Dos anseios que me afligem de transplantar horizontes

Buscando o rumor das fontes pra beber água na origem

 

Sobre o lombo da distância, de paragem em paragem

Fui repontando a mensagem de bárbara ressonância

Fazendo pátria na infância porque resolvi fazê-la

E a Liberdade, sinuela, sempre foi a estrela guia

Que o meu olhar perseguia como quem busca uma estrela

 

Pensei chegar alcançar, no estágio de índio rude

Mas nunca na plenitude, porque essa deusa baguala

Que aos andejos embuçala, nunca ninguém alcançou

Bisneto nem bisavô, nos entreveros mais brutos

Labareda de minutos que o vento sempre apagou

 

Primeiro era o campo aberto, descampado, sem divisas

Sem fronteiras, imprecisa, mundo sem longe nem perto

Eu era o índio liberto, barbaresco e peleador

Rei de mim mesmo, senhor da natureza selvagem

A religião da coragem e o céu de bronze na cor

 

Um dia veio o jesuíta a este rincão do planeta

Vestindo a sotaina preta na catequese bendita

Foi mais do que uma visita à minha pampa morena

Bombeei por trás da melena, olhos nos olhos o irmão

E gravei no coração a santa cruz de Lorena!

 

Mais tarde veio mais gente à minha terra campeira

A falange das bandeiras, impiedosa e inclemente

Me levantei frente a frente e as tribos se levantaram

As várzeas se ensangüentaram, elas que eram verdejantes

Mas eu venci os bandeirantes, que nunca mais retornaram!

 

E depois vieram os lusos, os negros, os castelhanos

E nos pagos campejanos, novas normas, novos usos

As violências, os abusos da Ibéria, Castela e Lácio

Que rasgaram o prefácio e mataram as plegárias

E as ânsias comunitárias dos irmãos de Santo Inácio

 

Não pude deter a vaga de Andonega e Barbacena

Se a História não os condena, a mancha nunca se apaga!

A opressão jamais indaga na sua opressão mesquinha

Era meu tudo o que tinha, era meu tudo o que havia

E eu morri porque dizia que aquela terra era minha!

 

Mas o eterno não morre, porque permaneço vivo

No lampejo primitivo de cada fato que ocorre

No meu sangue rubro corre a velha raça gaudéria

Corcoveando em cada artéria pela miscigenação

Na bárbara transfusão com os andarengos da Ibéria

 

Sou sempre aquilo que sou, fui sempre aquilo que fui

Porque a vida não dilui o que a mãe terra gerou

Sou o brasedo que ficou e aceso permaneceu

O gaúcho que cresceu junto aos forrões de combate

E já estava tomando mate quando a pátria amanheceu!

 

E assim, crescendo ao relento, criado longe do pai

Junto ao mar doce - o Uruguai -, o rio do meu nascimento

Soldado sem regimento no quartel da imensidade

Um dia me meu vontade, deixei crescer toda a clina

E me amasiei com a china que chamei de Liberdade!

 

Por mais de trezentos anos fui pastor e sentinela

Da linha verde e amarela, peleando com castelhanos

Gravando com "los hermanos" a epopéia do fronteiro!

Poeta, cantor e guerreiro da América que nascia

Na bendita teimosia de continuar brasileiro!

 

Com Bento em mil entreveros, em barbarescos ensaios

Depois contra os paraguaios, em Humaitá e Toneleros

Depois em Monte Caseros, Paisandu, Peribebuí

Passo da Pátria, Avaí, longe do meu território

E fui ordenança de Osório nos campos de Tuiuti

 

Depois, em Noventa e três, na gesta federalista

A pátria a perder de vista, andei peleando outra vez

Sem soldo no fim do mês porque pelear era lindo

As espadas retinindo, chapéu quebrado na copa

Como carneador de tropa nas tropas de Gomercindo

 

Mais adiante, em Vinte e três, em Vinte e quatro de novo

É o destino do meu povo que assim altivo me fez

A marca da intrepidez deste bárbaro território!

Ante o bárbaro ostensório dos lenços rubros e brancos

Acompanhei os arrancos do velho Flores, e Honório

 

Chimangos e maragatos, farrapos, federalistas

Caminhadas e conquistas que a história grava em seus fatos

Os tauras intemeratos de adaga e pistola à cinta

Não há ninguém que desminta nossa estirpe de raiz

Que se adonou da matriz nas arvoradas de Trinta

 

Depois vesti a verde-oliva, desta vez de voluntário

No corpo expedicionário, formando uma comitiva

Da nossa indiada nativa pra responder um libelo

E o pendão verde-amarelo, cravei até bem no fundo

Cravado forte e bem fundo, no velho Monte Castelo!

 

Hoje, o tempo demudado, meu coração continua

O mesmo tigre charrua das andanças do passado

Sempre de "pingo ensilhado", bombeando pampa e coxilha

A pátria é minha família, não há Brasil sem Rio Grande

E nem tirano que mande na alma de um Farroupilha!

 

 

 

Jaime Caetano Braun – O Payador

https://pt.wikipedia.org/wiki/Jaime_Caetano_Braun#Biografia

 

Jayme Guilherme Caetano Braun[1] (São Luiz Gonzaga30 de janeiro de 1924 — Porto Alegre8 de julho de 1999) foi um renomado payador e poeta do Rio Grande do Sul, prestigiado também na ArgentinaUruguaiParaguai Bolívia. Era conhecido como El Payador e por vezes utilizou os pseudônimos de PirajuMartín FierroChimango e Andarengo.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Jaime_Caetano_Braun#Biografia

 

Jayme Caetano Braun, o mestre do improviso

https://www.prosagalponeira.com.br/2009/07/jayme-caetano-braun-o-mestre-do.html

 

 

 

 

Fonte: Musixmatch

CCristal e Jaime Caetano Braun
Enviado por CCristal em 22/08/2023
Reeditado em 23/08/2023
Código do texto: T7867275
Classificação de conteúdo: seguro
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