O PAI, O FILHO E A FORCA

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Versão de Um Conto Armênio

 

Contam, os mais antigos, que havia numas terras daqui, um fazendeiro chamado Epaminondas, viúvo e muito rico, que tinha um filho único. O fazendeiro vivia preocupado com o futuro de seu filho, pois, o rapaz, só pensava em farrear com os muitos amigos que tinha na cidade. Amigos, diga-se, sem escrúpulos, que queriam apenas aproveitar da gastança do rapaz. De modo, que cada vez mais, o pai constatava que sua fortuna, logo, logo, acabaria.

Não foram poucas às vezes que Epaminondas tentara aconselhá-lo, implorando que renunciasse a vida ociosa. Dizia que os amigos se multiplicavam, porque ele tinha dinheiro no bolso, mas ao primeiro sinal de que esvaziara, eles desapareceriam. Mas, o rapaz não dava ouvidos ao pai.

Tempo vai e o dinheiro, gradativamente, desaparecia. Epaminondas, já velho, pressentindo estar por findar seus dias, tenta encontrar um meio para que, após sua morte e o fim de sua fortuna, seu filho não fique na miséria.

Um dia, ele retira duas ripas do teto do seu quarto, enche um jarro de cerâmica com moedas de ouro e o coloca no vão do teto. A seguir, entre as duas ripas faz um furo, de modo que passe uma corda cuja ponta fez um forte nó para que esta ficasse pressa nas ripas. Depois recoloca as duas ripas no seu devido lugar e usa dois preguinhos para fixá-las. Na outra ponta da corda fez uma laçada de forca e, assim, deixou. Por fim, chama o filho e diz: “Meu querido filho, estou morrendo. Vou te dar o meu último conselho; imploro que você o siga. Quando acabar o dinheiro, quando teus amigos desaparecerem, quando ficar pobre de verdade e desesperado, enforca-te com essa corda e pense no seu pai, que tanto gosta de você.” 

Não passou muito tempo, Epaminondas faleceu. O filho depois alguns dias de luto e de lágrimas, volta à vida desregrada de farras e gastanças.

Também, não demorou muito, tudo o que seu pai havia acumulado com tanto sacrifício, se foi, que nem fumaça. O que Epaminondas temia acontecera. O filho estava pobre, sem dinheiro e sem saber como viver dali em diante.

Busca auxílio dos amigos de farra aos quais tanto ajudou. Mas, estes, o abandonam e vão à procura de outro otário endinheirado.

Para piorar a situação, o rapaz se vê na ingrata obrigação de trabalhar; e o mais que acha, na cidade, é o emprego de carregador de caminhão. Para quem nunca trabalhou e só se divertiu, carregar peso era algo que ele não ia suportar. Com poucos dias abandona o emprego.

Desesperado, sem dinheiro, sem emprego sem o que comer, lembra-se das últimas recomendações de seu pai e decide: ”Não há melhor dia para me enforcar”.

Vai até o quarto, sobe num banquinho, enfia a laçada da corda no pescoço e derruba o banquinho com o pé para enforcar-se. Fica pendurado, por alguns segundos, pela corda, com a laçada a apertar-lhe o pescoço. No entanto, as duas ripas, que estavam presas apenas pelos dois preguinhos, cedem ao peso do rapaz e vem de cima abaixo; junto o jarro de moedas, que se espatifa no chão.

Nesse instante ele entendeu o intuito de seu pai, ao colocar esse tesouro, prevendo os dias difíceis que teria de passar e o agradeceu do fundo do coração. Daí em diante, decide mudar de vida e tornar-se o filho que o seu pai tanto sonhara. ®Sérgio.

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Em Três Palavras.

A Caveira e o Caboclo.

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Nota Sobre o Texto: Esta versão foi feita a partir do conto armênio - O Pai Previdente, de Hovanés Tumanian (1869–1923). Tumanian é um dos maiores poetas da língua armênia de todos os tempos.

Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquercomentário.

Se vocêencontrarerros (inclusive de português), porfavor, relate-me.

Ricardo Sérgio
Enviado por Ricardo Sérgio em 03/10/2007
Reeditado em 20/09/2010
Código do texto: T679358