O  Poder Canhoto

(Osvaldosan)
 
“Lilico quero te contar uma coisa maravilhosa”

“Diga Candinha”

“Vai ter um concurso literário naquele site de escritores Lilico. Lá no Recanto das Letras. Você bem podia participar meu velho”

“Site de escritores... bah! Site de escrevinhadores Candinha! Como chamam lá em Portugal: escrevinhadores. E pra quê?   Perda de tempo”

“Você reclama tanto que não leem suas coisas... Mas esses ao menos vão ter de ler para dar voto Lilico”

“Voto tudo comprado Candinha. E mesmo se não fossem, esses rapazotes não são capazes de votar ou julgar nem redação de Enem. Como dizia mesmo Shopenhauer sobre Plínio, o Velho? Quem lê demais e escreve demais não tem tempo pra pensar. Esse pessoal do Recanto escreve demais. E lê demais. Deixa isso pra lá mulher. Não me importune Candinha”

“Ah meu velho, não seja tão maldoso. Você bem podia escrever uns daqueles seus contos dos anos 70. O importante não é participar Lilico?”

“Não. Nunca foi. Para os homens e muito mais pras mulheres a coisa sempre foi ganhar Candinha. Ninguém participa de desafios só por participar. Todos entram pra ganhar”

“Quando David desceu à arena ao gigante Golias, desceu pra ganhar, não pra participar de gincanas Candinha” - completou Lilico.

“Então entre pra ganhar Lilico!”

“Impossível. Os organizadores do concurso são de Brasília. Tudo esquerda. Tudo panela”

 “Todo mundo hoje em Brasília é de esquerda!” concluiu Lilico.

“Já vem você com política Lilico! Escreva algo uma vez na vida que não envolva política! Misericórdia homem! Uma vez na vida, te peço Lilico”

“Tá bom. Tá bom. Por você eu faço. Vou participar. Vou criar um conto”

“Mas prometa não tocar no assunto de política Lilico. Prometa homem!”

“Prometo. Pronto. Agora me deixe deitar na rede, tirar um cochilo e ficar ‘minhocando’ igual o Ubaldo Ribeiro. Pra acelerar o processo criativo. Quando acordar a coisa sai. O Ubaldo me ensinou essa técnica lá em Itaparica.

“Jure Lilico. Jure que não vai escrever nada sobre política. Me prometa que escreve conto com princesas, aventuras e lendas. Jure Lilico”

“Não é preciso jurar Candinha. Palavra de escritor é sim ou não sim. Nada de política”
 

 
Conto A Lei Sheherazade

Nos tempos dos beduínos, havia um vizir na Península Arábica por nome Senoro Abravanel. Este famoso vizir era dono do maior empreendimento de pombos-correio do Oriente. Suas filhas virgens eram as mais formosas das areias do deserto. Uma delas trabalhava com o pai no serviço de mensagens, por pombos-correio. Enviando pergaminhos as 27 tribos do reino. Não havia moça no Oriente mais formosa e delicada que Sheherazade.

Sheherazade ficou conhecida até os nossos dias como a princesa que criou a famosa Lei Sheherazade. A história sobre a lei Sheherazade é parte integrante do Livro Das Mil Noites e Uma.

Nos dias de Sheherazade, um gatuno roubou tâmaras secas no mercado de frutas. Ao ser pego pelos beduínos e pela multidão enfurecida, foi devidamente justiçado com 100 escovadas e amarrado aos lombos de camelo.  E não foram cem escovadas como no livro Cem Escovadas Antes de Dormir, essas foram sovas mesmo. Das boas.

O califa Ali babá ao saber que Sheherazade teria sugerido e incitado a multidão a dar cem escovadas no gatuno, encheu-se de ira. Era contra idéias estrangeiras trazidas pelos ventos de Judá sobre justiça, ‘dente por dente e olho por olho. ’

“Onde iriam parar se por qualquer furtozinho perde-se um dedo, uma mão ou até um olho?!” Dizia Ali babá a seus asseclas.

 Ali babá havia perdido um olho e sabia como isso era amargo. Perdera o olho não se sabe como. Não queria essas idéias revolucionárias em suas areias.

O povo apoiou Sheherazade, pois estava cansado de ser roubado e o califa e seus quarenta ladrões não fazerem nada para protegê-los. Já que eram os governantes. Afinal, pensavam, o que os quarenta ladrões podiam fazer?  

“Tudo se resume a fábula do Monge e do escorpião” - Disse o vizir Senoro Abravanel contando a fábula a sua filha Sheherazade. “Um monge ao salvar um escorpião num rio, afogando-se, ao pegá-lo na mão foi picado. Usando um galho de árvore o salvou.

Um dos discípulos disse: - Mestre, deve estar doendo muito! Porque foi salvar esse bicho ruim e venenoso? Que se afogasse! Picou a mão que o salvara!

No que o mestre respondeu: A natureza do escorpião é picar e isso não muda a minha natureza, que é ajudar

Ali babá havia galgado principados e tomado o maior oásis da região, tornou-se califa com a ajuda dos quarenta ladrões. E da magia Canhota.

Um dos quarenta ladrões procurou amordaçar e quebrar o bico de um dos pombos-correio enviados por Sheherazade, justo o que levara a noticia das 100 escovadas dados ao surripiador das tâmaras secas. E sua opinião sobre o povo estar certo ao reagir quando roubado.

Como os ladrões odiavam a espalhação de noticias e bisbilhotices no califado, procuravam de todas as formas quebrarem os bicos dos pombos-correio. E a própria Sheherazade se pudessem.

                      Oh Ali babá!   Ali babá!

Que coisa maravilhosa de canhoto.

Ninguém nunca conseguiu entender, depois dos milênios, como um simples tratador de cavalos chegou ao califado. Como chegou a príncipe do deserto. Um simples homem curtido do sol. O qual nunca lera uma única palavra numa folha de pergaminho.

O que ninguém sabia é que para aprender não é necessário saber ler.

O conhecimento também entra por outros buracos nas pessoas, disse certa vez o sábio

Mau Li.

E Ali babá ouvia. Com seu ouvido canhoto ouvia todas as histórias e sussurros do deserto.

Aprendera tudo que era necessário para aplicar a sabedoria canhota. Ele não se dedicou a ler por inépcia ou incapacidade, mas por decisão própria, por escolha.

Numa madrugada de lua cheia o espírito de Schopenhauer sussurrou ao seu ouvido esquerdo: “quem lê demais não tem tempo para pensar". Então se decidiu, nunca mais leria nada na vida. Só pensaria. Esse era o verdadeiro segredo do seu sucesso e inteligência fora do comum.

Ali babá mandou construir seu palácio do lado esquerdo de tudo. Diz a lenda.

 Ao acordar, o primeiro pé a pisar o chão tinha que ser o esquerdo. Até para pegar algo ou tocar na própria esposa utilizava a mão esquerda.

Até para andar, ele andava igual caranguejo para os lados, sempre pelo lado esquerdo.

Ali babá planejava sorrateiramente disseminar as idéias Canhotas em todas as areias do deserto. Seu sonho maior é que não houvesse mais um grão de areia onde a sombra de um destro pousasse. Jurou pela sua vida exterminar da face da terra tanto a destreza quanto os destros.

Desejava criar um mundo melhor, onde cada um teria direito não a algum oásis, claro, mas prometeu que cada um teria direito a seu grão de areia e uma cesta de tâmaras ao mês.

Pois na sua imensa sabedoria adquirida pelo ouvido canhoto sabia que oásis, haréns, classes médias e danças dos setes véus pervertiam aos homens. Só o califa podia ter essas coisas porque a força Canhota o protegia da tentação.

O pior inimigo de Ali babá era justamente um ex- canhoto. Mediante um encantamento poderoso, um homem deixara de ser canhoto, tornando-se destro. A mão Destra arrebatou este filho para si da mão Canhota.

O famoso sábio da antiguidade Eulavo de Carvallo. Foi astrólogo na juventude, tornando-se sábio na velhice. Este foi o maior orador da antiguidade.

Prescreveu bulas, pergaminhos e provérbios por todo mundo destro. Explicando a maldade dos canhotos e como o veneno canhoto era destilado nas mentes dos homens.

Eulavo de Carvallo foi o homem mais sábio depois de Salomão. Ele escreveu a famosa bula da cisma do oriente O MÍNIMO QUE UM BEDUÍNO PRECISA SABER PARA NÃO SER UM IDIOTA.

Não havia canhoto capaz de discutir ou debater com Eulavo de Carvallo. Ninguém conseguia racionar ao debater com ele.  Havia algum feitiço de Sofhia sobre Eulavo, pois os canhotos ao debater com ele saiam chorando destruídos com suas palavras.

Eulavo de Carvallo teve de se refugiar em terras estranhas para fugir das garras dos canhotos. O sábio continuou enviando bulas e pergaminhos para a terra dos canhotos via pombos-correio. Os pombos-correio criavam uma grande rede mundial de informações naquele tempo.

Ali babá jurou um dia enterrar Eulavo nas areias quentes do deserto.

O pecado mortal de Sheherazade era ser destra e enviar crônicas noticiosas via pombo-correio. Coisa que ele Ali babá odiava mortalmente. A força da Canhota provinha da ignorância do povo.

Ali babá adquiriu toda sua sabedoria e poder ao visitar um famoso sábio numa ilha do Caribe.

A ilha Zuba. Lá o sábio sussurrou ao seu ouvido durante doze horas sem parar. E as palavras mágicas, todo feitiço e artimanha do poder Canhoto penetraram em seu coração. Tornando-se canhoto para todo o sempre. Só um homem no mundo antigo era capaz de tamanha façanha, sussurrar doze horas seguidas sem parar e sem repetir palavra.

O famoso oráculo de Zuba.

O oráculo de Zuba podia falar durante dias e dias palavras canhotas.

Diz a lenda que ele nunca colocou em sua boca alguma palavra destra deste mundo.

Quanto aos dólares... Ainda que nasciam em terras destras essas tâmaras deliciosas, todos sabem que eles não são destros ou canhotos. São ambidestros. Logo, qualquer mão podia usá-los.

 Ali babá sempre teve a lâmpada de Aladim. Usou um dos desejos para ser eterno. O segundo desejo para transformar um serviçal num sapo barbudo.

Anda a espreita nos tempos modernos para usar seu ultimo desejo. Que é tornar-se califa de 27 tribos lá pelos lados da República das Bananas no ano de 2014.

E até os dias de hoje no oriente médio, o bandido ou ladrão pego no ato vil tem sua mão decepada conforme a lei da princesa Sheherazade.

 
                                                ‘The End’
 
“Lilico... esse conto tá meio confuso... Não tem começo, nem meio e nem fim. Tá tudo confuso”

“Desisti Candinha. Não vou terminar o conto. Isso aí era só um esboço”

“Homem não faz isso...” – disse Candinha balançando a cabeça perplexa.

“Já fiz. Cansei. Vou jogar essas folhas no lixo. Não quero mais escrever conto nenhum”

“Eu vou entregar o conto pro concurso assim mesmo Lilico!” – Candinha ameaçou, balançando as folhas diante do rosto espantado de Lilico.

“Você não tá louca. Só se fosse por cima do meu cadáver. Onde já se viu entregar conto pela metade? E tem mais Candinha...e se disser que não consegui deixar de colocar uma pitada de política?”

“Me engana que gosto Lilico! Eu conheço a história dos quarenta ladrões seu bobo. O que a mão direita faz a mão esquerda não fica sabendo Lilico! Quando você acordar, já mandei o conto pros Contadores de Histórias Canhotas” 

 

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Contadores de Histórias
Enviado por Contadores de Histórias em 28/04/2014
Reeditado em 26/05/2014
Código do texto: T4785693
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