O SOLILÓQUIO

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Vocábulo de origem latina "Soliloquiu(m)", cujo significado é: [loqui] = falar, [solus] = sozinho. Na literatura esse termo foi cunhado por Santo Agostinho no seu "Líber Soliloquium".

Pode ocorrer tanto no teatro como no romance. O solilóquio presume que a personagem, sozinha em face do auditório e do leitor como se estivesse inteiramente desacompanhada de qualquer outra, articule seus pensamentos em alto e bom som.

O solilóquio consiste na oralização do que se passa na consciência do protagonista. Aí está a diferença do monólogo interior. Neste a oralização se passa no subconsciente do protagonista, de modo que suas emoções e ideias são estruturadas de forma ilógica e incoerente. Já o solilóquio, por se passar no consciente da personagem, suas ideias e emoções são estruturadas de maneira coerente e lógica, ainda, que partindo de um pensamento psicológico e não racional. Considera-se inexistente, no solilóquio, a intervenção do escritor; a personagem se comunica diretamente com o leitor. Daí ser empregado nas circunstâncias em que o escritor deseje que a personagem expresse com meios próprios o que lhe vai à consciência.

O solilóquio é feito sempre na primeira pessoa e dirige-se ao leitor como se a personagem dialogasse com um interlocutor calado, com uma diferença: no solilóquio é possível dizer tudo o que se passa pela mente, enquanto o diálogo não permite, visto ser uma relação.

Nos séculos XVI e XVII foi usado regularmente, como se observa, por exemplo, na obra de Shakespeare, "Hamlet", que apresenta o conhecido solilóquio “To be or not to be”, ou de Gil Vicente, cuja Farsa de Inês Pereira (representação de 1523) começa com um solilóquio da heroína, do qual destaco as primeiras linhas:

Ó Jesus! Que enfadamento,

e que raiva, e que tormento,

que cegueira, e que canseira!

Eu hei de buscar maneira

d’algum outro aviamento

Mais uma vez recorro a Clarice Lispector, em o Coração Selvagem, para exemplificar, com este trecho, o solilóquio:

“Eu estava sentada na catedral, numa espera distraída e vaga. Respirava opressa o perfume roxo e frio das imagens. E, subitamente, antes que pudesse compreender o que se passava, como um cataclismo, o órgão invisível desabrochou em sons cheios, trêmulos e puros. Sem melodia, quase sem música, quase apenas vibração. As paredes compridas e altas abóbadas da igreja, recebiam as notas e devolviam-nas sonoras, nuas e intensas. Elas transpassavam-me, entrecruzavam-se dentro de mim, enchiam meus nervos de estremecimentos, meu cérebro de sons. Eu não pensava pensamentos, porém música.”

Notou a confidência, numa narrativa consistente, coerente, lógica, que a personagem faz a você? O mesmo pode-se dizer da descrição. Pois é esta a característica que diferencia o solilóquio do monólogo interior.

No teatro, sobretudo entre o século XVI e meados do XIX, empregava-se um truque aparentado ao solilóquio: o aparte. Consiste no recurso de a personagem manifestar os seus pensamentos de tal forma que só se tornem audíveis a plateia e não pelas demais figuras em cena, transformando, assim, a plateia em verdadeiro confidente. ®Sérgio.

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Informações foram recolhidas e adaptadas ao texto de: Massaud Moisés, A Criação Literária e Branca Granatic, Técnicas de Redação.

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