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O Cemitério

O início do terror
  
   Mas nem todos estavam convencidos plenamente que um ataque do coração havia tirado a vida do vigia do cemitério, e lhe deixado com aquela expressão de terror no rosto, como se tivesse visto o próprio diabo antes de morrer.

   O mesmo não apresentava sinais de violência ou de luta, mas seu rosto era a pura definição do terror. Ninguém tinha a mínima ideia do que  poderia ter matado o velho Armand, mas para as autoridades o caso não tinha nenhum mistério, o homem havia morrido de um ataque do coração durante a noite, enquanto fazia a vigília do cemitério.

   Quando a aurora chegou na pequena Augustina, no Texas -  um rastro de morte veio junto. Os primeiros raios de sol da manhã revelavam o terror. Na entrada do cemitério jazia o corpo do velho Armand, vigia do lugar.

 
***

                                                 O novo vigia do cemitério
 
   A lua brilhava imponente no alto, quando Patrick entrou no  cemitério de Augustina, onde era aguardado por seu companheiro de trabalho, Tim. Patrick tinha vinte e quatro anos, moreno, cabelos negros caindo na testa  e corpo magro. Já seu colega era um pouco mais velho, tinha trinta e dois anos, era também moreno e tinha um corpo normal, com uma barriga um pouco saliente.

   De cara os dois se deram bem, tornando-se amigos quase que instantaneamente. Patrick já estava em sua segunda semana de trabalho e tudo corria na mais perfeita normalidade, e os únicos problemas encontrados no lugar eram relacionados à jovens que teimavam em invadir o cemitério durante a noite para fazer sabe-se lá o que lá dentro.

   O cemitério era grande e cercado por muros bem altos, principalmente na parte de trás, que ficava perto de uma grande mata. E era lá que Patrick e Tim mantinham maior atenção, pois as árvores da floresta que ficavam próximas do muro serviam de ponte para os invasores adentrarem o local.

   Na sua primeira noite no cemitério, Patrick questionou Tim por sua ausência no momento da morte de Armand. Em sua defesa, esse disse que estava doente na noite da tragédia, por isso o motivo da falta. Patrick então deu o assunto por encerrado.

   Quando se aproximava das 20h30m, Patrick e o parceiro pegaram suas lanternas e armas, e começaram a andar pelo cemitério, era a primeira ronda da noite. Nada de anormal dentro do lugar, mas por trás dos muros um som estranho chamou a atenção dos dois homens, era como se alguma coisa pesada estivesse vindo por dentro da mata quebrando tudo pela frente, indo na direção deles.

   Tim acreditava que se tratava de um animal qualquer que estava andando pela floresta, e chamou o companheiro para voltarem para a entrada do cemitério.
 
***
 
O café das 21h30m e o barulho na mata
 
   Assim que chegaram ao portão do cemitério, Patrick e Tim eram aguardados por um senhor idoso chamado Herald. Ele trazia nas mãos uma garrafa de café e dois copos. Era assim todos as noites, quando os dois estavam de plantão no cemitério. Herald sempre trazia uma garrafa de café quente para os vigias e aproveitava para puxar um pouco de conversa com a dupla.

    Às vezes a conversa ia até altas horas da noite, e sempre um dos dois rapazes acompanhava o idoso até sua residência, que ficava uns vinte minutos de distância do cemitério. Mas nas noites de lua cheia no céu, o ancião não gostava de voltar tarde para sua casa. Ele dizia sempre que nessas noites coisas estranhas costumavam acontecer. Patrick e Tim só ouviam as coisas que o velho falava, mas não entendiam o significado do que ele queria realmente dizer.

   Naquela noite não foi diferente, Herald conversou pouco e logo se levantou para seguir seu caminho de volta para sua casa. Tim resolveu acompanhar o amigo até sua residência, mesmo não se tratando de um horário tão tarde assim. Patrick resolveu fazer a ronda sozinho, enquanto o companheiro se encontrava ausente. Apesar de estar sentindo um certo receio de ficar andando sozinho no cemitério, ele prosseguiu sua ronda solitária por entre túmulos decrépitos e sombras que se projetavam do nada, parecendo ladrões espreitando na escuridão.

   Quando chegou ao final do cemitério, bem perto do muro que separava o local da mata densa e de aspecto sinistro e ameaçador, Patrick parou e sentiu um calafrio percorrendo todo o seu corpo, da pontas dos pés até o alto da cabeça. Alguma coisa se arrastava dentro da floresta, e parecia ser bem pesada. Ele podia ouvir nitidamente o som de galhos sendo quebrados pela força de alguma criatura que ele não sabia do que se tratava.

   De repente, o barulho parou e tudo ficou no mais absoluto silêncio. Patrick sentiu medo e resolveu voltar, quando ouviu uma respiração profunda e cansada vinda do outro lado do muro. Ele simplesmente ficou paralisado de terror e nem percebeu quando Tim se aproximou dele, lhe dando um grande susto.

   Patrick contou ao amigo tudo o que aconteceu e ouviu. Tim ficou parado, sem fazer nenhum barulho, afim de ouvir alguma coisa, mas nada aconteceu. Ele disse que tudo não passou de impressão do companheiro e voltaram para a frente do cemitério.

   Depois disso, a noite passou rápida como um sopro e os primeiros raios de sol surgiram no horizonte, dissipando a escuridão. Mas Patrick não estava tranquilo, ele parou na entrada do cemitério e ficou olhando na direção do muro que ficava de frente para a mata, e seu olhar era de inquietação.
 
***
                                            
Uma noite alucinante
 
    Quando Patrick e Tim chegaram para mais um turno no cemitério, a atmosfera do lugar estava diferente, mais sinistra do que o habitual. Às horas foram passando e a primeira ronda foi executada sem nenhuma anormalidade, apesar de todo o clima de terror do lugar.

   Já se aproximava das 21h30m, o horário do cafezinho diário de Herald, e a dupla estava na entrada do cemitério batendo papo e esperando a chegada do homem. Os minutos se tornaram horas e a noite se transformou em madrugada. Herald havia esquecido dos dois.

   Patrick e Tim ficaram pensando qual teria sido o motivo do homem ter faltado com o café deles, e as possibilidades poderiam ser as mais variadas possíveis. Mas eles preferiam aguardar pela explicação de Herald.

   Lá pelas tantas da madrugada a dupla deu início a outra ronda no cemitério. Mas dessa vez a normalidade deu lugar ao medo. Pela terceira vez naquela mesma semana, Patrick e Tim estavam ouvindo aquele estranho barulho que vinha da mata nos fundos do cemitério, o som de galhos sendo quebrados por alguma coisa bem pesada.

   Eles permaneceram parados e imóveis, ouvindo a movimentação que vinha do outro lado do muro. O som agora era de uma respiração bem profunda e cansada, que podia ser ouvida nitidamente mesmo daquela distância toda. Patrick lembrou da noite em que fezia a ronda sozinho e foi surpreendente com aquele mesmo som sinistro.

   Ele gelou dos pés à cabeça!

   De repente, o barulho parou. Mas não durou muito.

   Um forte estrondo de algo pesado se chocando contra o muro, levou Patrick e Tim ao chão, tamanho foi o medo que sentiram. Seus olhos arregalados eram a pura expressão do terror, e seus corpos tremiam como se estivessem expostos nas águas congeladas do mar noturno.

   Um ruído de garras arranhando o muro começou a soar alto, e junto era possível ouvir também um rosnado macabro, mas não era de um cão. Era algo mais grave e intenso.

   A dupla saiu correndo do lugar e se trancou no alojamento dos funcionários, olhando pela janela qualquer movimentação estranha dentro do cemitério. Mas nada aconteceu, e o dia amanheceu. Os dois permaneceram no mesmo lugar a noite toda, observando a área do muro onde aconteceu o incidente e onde ficava a floresta.

   Quando encerrou o turno da noite, Patrick e Tim saíram para fora e ficaram olhando a lateral do cemitério, na direção do final do muro e da floresta. Mas não tiveram coragem de ir até lá olhar se encontravam alguma coisa suspeita. No caminho para casa, os dois amigos acabaram encontrando com o velho Herald no meio da estrada, indo na direção do cemitério. O homem ficou feliz por encontrar os amigos e por saber que estavam bem.

   No entanto, a dupla não entendeu o motivo da preocupação seguida de alívio do idoso, mas faziam uma ideia do que poderia se tratar.
 
***
 
A criatura na estrada e a fera do cemitério
 
   Quando chegaram na humilde residência de Herald, Patrick e Tim se sentaram na varanda, observando o movimento na rua que ia aumentando gradativamente, enquanto o homem foi na cozinha buscar duas xícaras de café para eles. Na volta, Herald se sentou ao lado dos amigos e começou a relatar com riquezas de detalhes o motivo pelo qual não foi deixar o café deles na noite passada.

   Segundo o homem, assim que terminou de preparar o café da dupla e já estava saindo de casa, ouviu nos fundos de sua residência um barulho estranho de algo pesado quebrando o cercado que protegia seus animais, uma criação de porcos, de invasores. O homem achou tudo muito estranho, e temendo se tratar de um ladrão buscou sua arma e quando colocou os pés para fora da cozinha, viu uma criatura saltando a cerca com um dos seus porcos na boca, e correndo na direção da estrada. O velho foi atrás, mas só viu quando o misterioso invasor atravessou a rua e sumiu na mata.

   Ele disse que nunca tinha visto algo parecido na vida e que a coisa era enorme e peluda, e que temendo ser atacado pelo bicho na estrada preferiu não sair mais de casa. Patrick e Tim se entreolharam. Herald sabia que os dois não iriam acreditar na sua história, muitos não acreditam mesmo vivenciando uma parecida. Tim resolveu então ele mesmo ir todas as noites buscar o café na casa de Herald, temendo pela segurança do homem.

   Eles então se despediram do amigo e foram embora. Já voltando para casa, Patrick e Tim iam conversando sobre tudo o que haviam ouvido da boca do idoso, e por um momento eles temiam acreditar que tudo fosse verdade. Mesmo com tudo de estranho e misterioso que havia acontecido com eles no cemitério nos últimos dias, eles preferiam acreditar que nada daquilo tivesse sido real.

  Era chagado mais uma jornada de trabalho no cemitério, o céu estava belo e iluminado por uma constelação de estrelas que brilhavam feito um pisca-pisca em uma noite de Natal. A lua cheia reinava esplendorosa lá do alto, iluminando tudo a baixo dela. Os túmulos velhos ganharam uma tonalidade fosforescente com o brilho do astro maior, passando uma aparência de algo sobrenatural.

   Por um momento, Patrick e Tim sentiram um calafrio percorrendo seus corpos diante de uma beleza tão macabra. Após o término da primeira ronda da noite, já se aproximava da hora do cafezinho, e Tim se encaminhou até a residência de Herald para buscá-lo. Patrick ficou na entrada do cemitério observando o companheiro se distanciando pouco a pouco, até se perder por completo na escuridão da noite.

   Foi nesse exato momento que o terror teve início. Patrick começou a ouvir o latido de cães no fundo do cemitério, bem perto do muro que margeava a sinistra floresta, eles pareciam que estavam cercando algum bicho. Num primeiro momento, o rapaz não deu muita importância ao acontecido, mas algo arrepiante aconteceu que o despertou para o perigo. Aquele som de garras arranhando o muro, seguido de um rosnado alto e grave, chegaram aos ouvidos de Patrick como uma melodia do inferno, fazendo-o tremer nas bases.

   Apesar de estar sentindo um imenso medo com toda aquela situação, Patrick se deixou levar pela curiosidade que falou mais alto dentro dele, e resolveu desvendar aquele aterrorizante mistério de uma vez por todas e saber afinal de contas do que se tratava aquele estranho barulho.

   Ele se aproximou do muro onde ficava a floresta e de onde estava vindo os latidos dos cães e o rosnado do misterioso bicho acuado por eles. Mas a parede era muito alta e não era possível enxergar nada do que estava acontecendo do outro lado, foi ai que o jovem se lembrou de uma velha escada guardada no alojamento dos funcionários. Patrick correu até lá o mais depressa possível e voltou com a escada.

   Ele a apoiou no muro de frente de onde o barulho estava vindo e começou a subir. À medida que ia se aproximando mais da divisão da parte do cemitério com a parte da floresta, ele ia temendo prosseguir com seu plano. Quando estava já no milite da divisão entre as duas partes, Patrick começou a ouvir os gritos de Tim na entrada do cemitério, o rapaz gritava e gesticulava com as mãos, mas o outro não estava entendendo nada. Quando já estava colocando a cabeça para o outro lado do muro, Patrick foi puxado de uma só vez por Tim, caindo de costas no chão e rolando para longe.

   O rapaz ficou furioso com a atitude do companheiro e ao mesmo tempo bastante curioso pra saber o que estava acontecendo. Tim se levantou rapidamente e puxou a escada para baixo, e mandou que Patrick fosse com ele para o alojamento, que chegando lá ele lhe explicaria tudo o que estava se passando. Os dois homens saíram correndo, com Patrick sempre olhando para trás na direção do muro.

   Quando chegaram ao alojamento dos funcionários, Tim trancou à porta e ficou olhando pela janela. Ele pegou uma arma no armário, o que deixou Patrick mais intrigado e nervoso. O jovem exigiu que o parceiro lhe contasse logo o que estava acontecendo ali, e Tim começou a narrar toda a história.

   Tudo começou quando o rapaz estava voltando da casa de Herald sem o café, por algum motivo desconhecido o velho não se encontrava lá, como combinado. E foi no meio do caminho que Tim viu uma movimentação suspeita adiante, já perto do cemitério, do lado da mata. Ele diminuiu o passo temendo algum perigo, mas sempre alerta, e foi quando começou a ouvir os latidos dos cães de forma descontrolada. Eles pareciam que estavam perseguindo alguma criatura, que Tim não conseguia identificar da distância que estava. Mas ele tinha certeza de uma coisa, aquele bicho não se intimidava facilmente com os cachorros, e em certos momentos até os atacava, os lançando para longe.

   Tim temendo pela segurança do amigo que ficou sozinho no cemitério, apressou o passo, e foi quando chegou mais perto que pôde ter uma noção maior do que se tratava a coisa acuada no pé do muro pelos cães. Era um animal definitivamente colossal e tenebroso, algo saído das profundezas do inferno ou da mente de um escritor de terror altamente enlouquecido.

   O bicho não podia ser descrito simplesmente com palavras, era preciso ser visto para ser acreditado. Os olhos de Patrick estavam arregalados de pavor diante das palavras do amigo, e todo o seu corpo tremia de uma forma descontrolada. Ele não queria acreditar que toda aquela história contada pelo amigo pudesse de fato ser verdade. E foi nesse momento que ele se lembrou de Herald e da sua história sobre um estranho animal que atacou sua criação de porcos e de Armand, o antigo vigia do cemitério que morreu de uma forma aterrorizante e cercado de mistério.
 
***
 
O lobisomem
 
   Patrick pegou sua arma no armário e saiu para fora do alojamento, ele estava decidido a confrontar aquela fera bestial e desvendar seu intrigante mistério. Tim foi atrás do companheiro, também com sua arma em punho. Ambos usavam duas espingardas um pouco velhas, mas que funcionavam perfeitamente bem. Patrick subiu na parte do muro que ficava na frente do cemitério, que era o local mais baixo e ficou olhando para o fundo, na direção de onde a criatura estava.

   Os latidos dos cães continuavam e o rosnado de intimidação da fera misteriosa também. Tim saiu para fora do cemitério e foi caminhando pela lateral do muro até a divisória, onde tinha uma visão mais privilegiada do fundo do lugar, e posteriormente da criatura também.

   Nesse instante o monstro soltou um berro estrondoso que deixou a todos pálidos de medo, Patrick e Tim viram os cães murcharem de uma maneira inexplicável e num outro momento serem dilacerados pelo besta tão rápido, que os animais mal tiveram tempo de verem de onde veio o golpe que os matou.

   E em seguida, a grande criatura emergiu das sombras e ficou visível sob o brilho da lua cheia.

   E lá estava a coisa, outra vez sob o alcance dos olhos de Tim, que não escondia o pavor. A besta realmente era algo colossal e intimidadora. Nesse momento, Patrick também pôde vê a criatura, e ficou fascinado com sua aparência monstruosa. A coisa tinha quase uns dois metros de altura, pelos negros que brilhavam de uma maneira intensa em contraste com o brilho da lua. E sua aparência lembrava um grande urso negro, mas seu rosto era parecido com o de um cão. Só que três vezes maior. Patrick não queria acreditar, mas aquilo ali na frente dele e do amigo era sim um lobisomem. A fera ficou imóvel olhando para eles.

   Patrick tremia tanto qua mal estava aguentava ficar firme em cima do muro e Tim simplesmente ficou paralisado no lugar onde estava, completamente impotente. A criatura começou a andar na direção de Tim, que não conseguia tomar nenhuma atitude, enquanto Patrick estava desesperado gritando para que o amigo se mexesse e entrasse de volta para dentro do cemitério. Foi nesse intervalo de segundos que a besta ganhou impulso e começou a correr pra cima do homem. Patrick olhava toda a cena desesperado, sem saber o que fazer para salvar o companheiro do ataque certeiro daquela criatura.

   Ele então mirou a espingarda na direção do bicho e atirou, acertando seu ombro esquerdo e fazendo o monstro soltar um berro de dor. O lobisomem então perdeu impulso com o tiro e parou, Patrick aproveitou e saltou do muro e correu na direção de Tim. Ele pegou o amigo e saiu puxando o mesmo para dentro do cemitério. O lobisomem voltou outra vez a ganhar impulso e correu na direção do portão, dessa vez sedento de ódio pelo tiro que levou.

   Patrick conseguiu colocar o companheiro para dentro do cemitério e estava terminando de fechar o portão com um cadeado, quando a besta se chocou contra o mesmo, impulsionando o rapaz para trás. O lobisomem voltou a se jogar contra o portão, tentando entrar no cemitério, em vão. Enquanto isso, Patrick correu ao encontro do amigo, que estava chorando descontroladamente, temendo por sua vida e por sua família que iria ficar desamparada. Patrick tentava acalmar o amigo, enquanto olhava o lobisomem tentando derrubar o portão de ferro, que ele já sabia que uma hora ou outra iria ceder.

   Então era preciso fazer alguma coisa antes que isso acontecesse. Ele mirou na direção do monstro e deu um novo tiro, acertando as grades do portão, fazendo saltar faíscas que deixavam a fera ainda mais enlouquecida. Nesse momento, Tim recuperou o controle de suas ações e também mirou na coisa e atirou. O tiro acertou o peito esquerdo do bicho, que voltou a soltar um novo berro de dor. Mas não desistiu, e continuou sua investida contra o portão, que já estava começando a ceder. Patrick podia ouvir claramente o ferro rangendo e temia pelo pior. Ele resolveu tomar uma atitude mais drástica e imprudente, mas que poderia salvar sua vida e a do seu amigo.

   Patrick foi se aproximando do portão  lentamente, sempre mirando na direção do lobisomem, que continuava se jogando contra as grades de ferro. Tim não estava entendendo o plano do amigo, mas resolveu ir atrás e arriscar também.

   Quando ficou o mais próximo possível da fera, e tudo o que separava eles era apenas aquele portão de ferro que já estava cedendo, Patrick mirou e atirou, uma, duas, três vezes. Tim fez o mesmo, gastou todas as munições de sua arma em cima daquele monstro, que cambaleando ia tentando voltar para seu refúgio, a mata atrás do cemitério.

   Os dois homens estavam decididos a terminar o serviço e resolveram ir atrás do bicho, mas quando chegaram próximos, o lobisomem já estava terminando de desaparecer na escuridão da floresta. Eles apenas se entre olharam e voltaram para dentro do cemitério, ainda impactados com a noite de terror que viveram.
 
***
 
A revelação
 
   Patrick e Tim entregaram o turno para os dois vigias da manhã, e não tocaram no assunto da noite passada. No meio do caminho, eles pararam na casa do velho Herald para terem notícias do homem, mas ninguém apareceu para atendê-los. Então, eles resolveram entrar na propriedade.

   Lá dentro tudo estava revirado e no mais absoluto silêncio, mas não foi isso que chamou a atenção dos amigos, mas sim o chão sujo de sangue. Eles se entreolharam e foram seguindo os pingos de sangue, com suas espingardas em punho.

   No quintal da casa, perto do chiqueiro dos porcos jazia o corpo de um homem completamente pelado. O velho Herald se encontrava de pé ao lado do homem nu, que também estava com o corpo crivado de balas. Patrick e Tim olhavam toda a cena atordoados, com seus semblantes cheios de perplexidade e confusão. Eles não estavam entendendo nada do que se passava ali, nos fundos daquela casa.

   Foi o velho Herald que se virou para dois amigos e com os olhos inchados de chorar, começou a contar toda uma história de chocante de terror guardada por anos atrás das paredes daquela casa. O homem caído morto no chão era seu filho e ele se transformava em um lobisomem nas noites de lua cheia. O homem mantinha o filho sempre preso em um dos quartos da casa e longe da vista dos curiosos, para todos do lugar ele era apenas um velho que criava porcos, viúvo e que vivia sozinho desde a morte da esposa.

   E que nunca tivera nenhum filho.

   E sempre que era noite de se transformar, o rapaz corria para o interior da floresta onde o pai o prendia a uma árvore com correntes reforçadas e grossos cadeados, e depois o deixava lá sozinho, e esse ficava aguardando o momento da metamorfose. Mas com o tempo a força da besta foi ficando cada vez mais descomunal, ao ponto de ela dificilmente ficar presa até voltar a forma humana.

   Patrick e Tim não sabiam o que dizer de toda aquela história macabra, para eles foram muitas as revelações, e ainda tinha o choque do encontro com o monstro na madrugada e o confronto que culminou na sua morte. Tudo aquilo estava sendo demais para os dois amigos.

   Patrick e Tim permaneceram calados durante toda a narrativa fantástica, eles  não conseguiam esboçar nenhum tipo de reação. Apenas  deram as costas para Herald e o cadáver do lobisomem no chão e foram embora sem olharem para trás.
 
***
 
                                                                   FIM
TEMA: Investigação Criminal
Total de Palavras: 3827 palavras

 
 


 
  

 

  
 
 
 
 
 
 
DTRL Desafio de Terror Rascunhos Literários
Enviado por DTRL Desafio de Terror Rascunhos Literários em 09/08/2019
Reeditado em 09/08/2019
Código do texto: T6716548
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