ENÁLAGE E HIPÁLAGE

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Uma Palavra pela Outra

 

1. ENÁLAGE

A Enálage (do Grego enallagê = troca, inversão), geralmente confundida com a hipálage, é a transferência deliberada da categoria gramatical de uma palavra para outra diferente daquela que lhe é característica, ou seja, o uso do presente pelo passado, do singular pelo plural, do substantivo pelo adjetivo, do substantivo pelo verbo, do concreto pelo abstrato, etc.:

- Por te trazer ao fim o extremo dano (fim no lugar de final). [Os Lusíadas]

- Se você viesse, ganhava minha vida mais entusiasmo... (ganhava no lugar de ganharia)

- Que seria de mim, não fora sua ajuda? (fora no lugar de fosse)

- Se deres mais um passo, morres. (morres no lugar de morrerás)

- No fim do mês, vamos até lá. (vamos no lugar de  iremos)

2. HIPÁLAGE

A Hipálage atribui a um ser ou coisa, representando por uma palavra, uma qualidade ou ação pertencente a outro ser ou coisa, expresso ou subentendido na frase, por exemplo:

- "Aves cheirosas, flores ressonantes." (Gregório de Mattos)

► Gregório atribuiu às aves o que pertence às flores e às flores, o que pertence às aves, ou seja, o adjetivo que deveria determinar um substantivo acaba determinando o outro.

- O voo branco das garças. 

► O adjetivo branco deveria determinar garças, pois, elas é que são brancas, não voo: O voo das garças brancas .

- "Abria os olhos molhados de culposas lágrimas." (Camilo C. Branco)

► O adjetivo culposo deveria determinar os olhos não as lágrimas porque a culpa é dos olhos: Abria os olhos culposos molhados de lágrimas.

Fica explícito, portanto, que a Hipálage é uma alteração gramatical e ao mesmo tempo semântica (de significado), entre um substantivo e um adjetivo. Em vez de este estar ligado ao substantivo que semanticamente o exige, ele vai se relacionar com outro substantivo.

É a hipálage que nos permite dizer: Extrai dois dentes de siso. Entretanto, foi o dentista quem os extraiu, não eu. A bicicleta quebrou o pedal; a bicicleta não quebrou seu próprio pedal. O menino quebrou a perna na brincadeira; é claro que não foi ele que quebrou a própria perna.

A hipálage foi muito usada pelos prosadores impressionistas. Em Portugal, por exemplo, Eça de Queirós a usou com frequência:

- "Houve um ruído domingueiro de saias engomadas." (Houve um ruído de saias domingueiras)

- "As tias faziam meias sonolentas." (As tias sonolentas faziam meias) ®Sérgio.

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Ajudaram na elaboração deste texto: Luft, Celso Pedro. Novo manual de português, gramática, ortografia oficial, redação, literatura, textos e testes. 9ª. ed. São Paulo: Globo, 1990. / Guilherme Ribeiro, Recursos Estilísticos. Disponível em: http://esjmlima.prof2000.pt/figuras_estilo/ figuras_estilo.html / Moisés, Massaud. Dicionário de Termos Literários. São Paulo: Cultrix, 1966.

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