Pérolas de minha neta Cecilia: Segundo ato
Quanto mais convivo com minha netinha, Cecilia, mais me surpreendo com suas falas e recursos para conseguir o que quer. Ela me lembra daquelas vendedoras de Bíblia que batem na porta de nossas casas: “Quer comprar ou quer que eu leia TODA a palavra de Deus para você?” Escolha fácil, né?
Todas as bonecas e bichinhos de Cecilia tem nomes. Ela conversa e responde por eles fazendo uma vozinha mais engraçada que a outra. Tem até uma boneca que Cecilia nomeou de Boneca:
_ Mamãe, onde está minha boneca Boneca?
E nada nesse mundo faz ela mudar o nome da tal boneca. Essa nasceu boneca e vai morrer Boneca!
Na hora do almoço, eu pelejando para ela comer rapidinho, fui logo inventando uma coisa qualquer para chamar a atenção dela:
_Cecilia, come tudo rapidinho que o vovô vai fazer um Biricutico para você!
_Tá bom, vovô. Eu vai comê!
Quando terminamos a refeição, eu já tinha me esquecido da minha promessa. Mas logo veio Cecilia dizendo:
_Vovô, cadê meu Bilutico?
E agora, José?!
No improviso pego um pote de plástico vazio, retiro o rótulo e pergunto:
_Cecilia, pode ser um Biricutico branco?
_Tá bom, vovô. Pode ser!
Eu entrego o pote branco para ela e tudo é resolvido (por hora). Fala sério! Thomas Edison iria ficar na maior inveja da minha mais nova invenção. Até hoje eu só conhecia o Biricutico filho do Paulinho Gogó do programa A Praça é Nossa, mas pesquisando no Google encontrei um outro significado:
1. Biricutico. Bebida, especialmente alcoólica, seja em forma de destilados ou fermentados, mas cuja mistura inclua dosagem alcoólica.
Bem apropriado para criança, né? Melhor ficar com o biricutico da praça é nossa mesmo…
Nossas invenções não param por aqui. Quem está com Cecilia sempre tem algo para contar depois. Sua mãe contou a história dos três porquinhos pra ela, mas mudou para três vaquinhas. No meio da narração, Cecilia saiu com mais uma pérola:
_Mamãe, a vaca mamãe deu a mão com o rabo para a vaquinha!
_A é minha filha?
A mãe dela continuou a história… um passarinho bateu na casa da mamãe vaca pedindo pra entrar…
_Mamãe, o passarinho pode entrar. O passarinho canta e cantar é falar.
_Tá bom minha filha… o passarinho entrou e…
E antes de retomar a história:
_Mamãe não quero mais comer abacaxi. O abacaxi deixou minha língua apimentada!
Por falar em abacaxi, depois de comer é a hora de escovar os dentes:
_ Deixa o vovô escovar os seus dentes, Cecilia?
_Vovô, a Cecilia primeiro!
Ela chupa a escova até retirar toda a pasta e depois fico tentando escovar uma boquinha que não pára aberta. O dia todo de boca aberta tagarelando, entretanto na hora de escovar os dentes, Cecilia fecha a matraca.
_Cecilia, se você não abrir a boca eu não vou brincar com você depois.
_Eu vai abrir vovô. Depois você coloca muita pasta para mim?
À noite, depois de escovarmos os dentes, é a vez do banho. Um banho quentinho bem demorado…. Algumas vezes, Cecilia quer escolher quem vai ter a honra de lhe dar banho. Nossa princesa sai enrolada (“de lagartinha, mamãe”) em uma toalha nos braços de seu escolhido. Já no quarto, começa a árdua tarefa de pentear o cabelo e passar creme no corpo.
_Papai, deixa a Cecilia apertar o creme. Eu primeiro! Coloca um pouquinho na mão da Cecilia.
_Não minha filha, você apertou muito o creme da última vez.
_Eu vai tomar cuidado, papai!
_Papai, toda hola a culpa é da Cecilia.
Um segundo de descuido e Cecilia foge pelada do quarto. Lá vai o pai dela correndo atrás, com cara de bravo, e segurando para não rir.
Às vezes, Cecilia cisma de fazer um xixi antes de vestir o pijama e fralda. Ela senta no peniquinho e faz umas gotinhas.
_Quero dar tchau pro xixi. Eu dou dicaga!
Depois de colocada a fralda, Cecilia sobe na cama e pula no colchão até cansar.
Na maioria das vezes, Cecilia quer prolongar o ritual antes de dormir ao máximo. Ela faz o possível para atrasar o apagar das luzes. Quando sou eu quem está incumbido de fazer a bela acordada adormecer, ela me enrola, enrola, enrola… até que os pais dela vêm me socorrer.
Outro dia foi assim: coloquei o pijama na Cecilia, depois o saco de dormir (“calda de sereia, vovo!”), e finalmente li um livrinho escolhido por ela (“esse não”, “esse é do papai”, ). Enfim, livro lido:
_Agola eu que vou ler vovô!
Esperei Cecilia acabar de ler sua versão do livro e lhe dei boa noite.
_Vovô, canta uma musiquinha e me dá um pouquinho de mão?
Cantei uma música enquanto segurava a mão dela. Me levantei, e fui apagar a luz.
_ Vovô, a Moana quer dormir comigo. Pega ela para mim?
Se der corda, ela enche a cama com todas as bonecas! Dei a Moana pra Cecilia e finalmente consegui apagar a luz. Quando fui fechar a porta, Cecilia falou:
_Vovô, você queceu de ligar o Luca!
Acendi a luz e fui procurar o tal de Luca. Com muito custo descobri que se tratava do relógio dela. Liguei o relógio com o som ambiente e me dirigi à porta.
_Vovô, dá boa noite pra mim na câmela? E pede o papai e a mãe falar boa noite também?
Depois desse longo ritual, Cecilia se rendeu ao sono... Na manhã seguinte, encontrei Cecilia acordada na cama com uma foquinha de pelúcia na mão e perguntei:
_Essa foquinha é sua amiguinha também?
_Vovô, a fofoquinha não é minha amiguinha!
_Não, Cecilia? Que que a fofoquinha é sua?
_Cute cute.
Mais tarde, no mesmo dia, presenciei Cecilia conversando com o pai:
_Papai, esse gatinho aqui é diferente.
_Por que, Cecilia?
_Ele tem rodinha nos pés, e volante na mão.
_Um volante em cada mão, Cecilia?
_Não, papai, um só!
Respondeu ela com uma cara irônica, morrendo de rir, como se quisesse dizer “que pergunta boba, papai, é óbvio que é um volante só."
Cecilia é muito sapequinha. E eu sou um avô coruja que se diverte muito com suas pérolas. Brincando com ela faço uma pergunta:
_Que parte da Cecilia é do vovô?
_O coração! O barrigão é da mamãe!
E não pára por aí. Ela reparte o corpo todo com os familiares mais queridos. Cada membro da família fica com uma parte do corpinho dela: pé, coração, bumbum. E azar se alguém reclamar de sua parte; ela não aceita barganhas (só se for do interesse dela!).
Além de sapeca, Cecilia também é muito comilona:
_Vovô, que cê tá comendo? Eu quelo!
_Estou comendo a minha língua, menina!
_Mo’ pa mim!
Engulo rápido e mostro a boca ainda salivando, e ela me olha com aquela carinha desconfiada. Mudo de assunto para que ela não faça uma revista completa em minha boca:
_Cecilia, o vovô vai escovar os dentes e já volta!
_Vovô, vovô, vovô... deixa a Cecilia escovar! Eu primeiro!
_Não, o vovô vai escovar primeiro e depois ele deixa você escovar um pouquinho.
Quando chega vez dela:
_Vovô, a Cecilia passa o fio dental. Vovô, eu coloco a pasta. Vovô, tem um petinho no seu dente. Abe muito a boca, vovô. Coloca a língua pa fola!
Como toda história, a Cecilia cresceu, parou de teimar, desobedecer, e chorar. Vivemos na maior paz, sossego e felizes para sempre… só que não! Estamos nos preparando para o Natal e esperando a chegada do papai Noel. A lista de presentes da Cecilia está chegando quase no Brasil já, mas a lista do seu irmão até agora só tem um item:
_ O Atuzinho tá falando: “papai, compra uma barba pra mim?”
Os textos que tenho escrito sobre meus netos, tem tido muitos leitores e comentários. São todos postados em minha página no Recanto das Letras, onde tenho uma infinidade de outras postagens. Seguindo uma sugestão e pedido de um dos leitores, vou colocar em seguida os links dos textos dos netos para quem desejar ler mais um pouco:
https://www.recantodasletras.com.br/cronicas/7401649
https://www.recantodasletras.com.br/cronicas/7393844
https://www.recantodasletras.com.br/cronicas/7373509
https://www.recantodasletras.com.br/cronicas/7234905
https://www.recantodasletras.com.br/poesias-de-familia/6625849
https://www.recantodasletras.com.br/homenagens/6525348
Kennedy Pimenta 🌶