CARTAS AO LEO

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Lagoa da Cruz, um julho de 2008

Amigo Leo, já disse Inês Pedrosa, que “só aos amigos é dado o espetáculo da nossa miséria”. Portanto, sou bipolar, hiperativo nuns dias, depressivo noutros; talvez um pouco neurótico; esquizofrênico não, mas já cheguei a pensar que era. Passei por duas depressões brabas que exigiram internação. Mas, agora, os remédios controlam eficazmente a situação.

Na época das internações, o que mais perguntavam as minhas visitas, era: como são as pessoas aqui? Poderia lhes responder: como em todo o lugar! Mas..., não eram como em todo o lugar. Eram pessoas trôpegas, enfraquecidas, deformadas pelas sequelas da insanidade, algumas saídas das pocilgas da rua, onde vagueavam dias após dias, carregando seus delírios.

Na clínica, elas continuavam caminhando dia após dia, só que de um canto a outro do pátio, sempre numa única direção, perfazendo um curso de quilômetros em um só dia.

Mas, lá acontecia algo inacreditável: essas pessoas tinham a coragem de rirem. Trocavam dizeres zombeteiros. Apelidavam-se, ridicularizando suas próprias desgraças. Riam da própria infelicidade.

Diziam, entre risadas e gracejos, "que lá o diabo não entrava para não ficar com complexo de inferioridade do inferno".

Receba um forte abraço deste mano velho

Ricardo Sérgio.

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